Arquivo mensal: novembro 2015

O que há de infantil nos filmes infantis? Morte violentas como temas

Desenhos infantis parecem ser uma boa e segura opção para crianças assistirem num fim de noite, por exemplo, certo? No entanto, um estudo realizado por pesquisadores britânicos e canadenses e publicado na revista científica British Medical Journal no final de 2014 comparou a violência mostrada entre desenhos infantis e filmes de terror para adultos e chegou a uma conclusão surpreendente: as crianças estão expostas a mais morte e violência do que os adultos. O que nos leva a pensar na seguinte questão: o que há de infantil nos filmes infantis?

infantil

Essa é uma questão central para correntes dos estudos culturais que analisam o consumo cultural infantil em filmes, desenhos e animações destinadas às crianças. Questões estéticas, relações de gênero e étnico-raciais, mensagens subliminares ao consumismo e violência são alguns dos eixos centrais dentro dessa abordagem.

Henry Giroux, um dos mais importantes pesquisadores da área, tem inúmeras publicações sobre o tema, principalmente exercendo uma crítica à indústria cultural do universo Disney. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão “Rato que ruge – Disney e o fim da inocência” e “A disneyzação da cultura infantil”, esse último, um dos capítulos do livro “Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais”, organizados por Tomaz Tadeu da Silva e Antônio Flávio Moreira. No Brasil, Ruth Sabat com o texto “Mocinhas estranhas e monstros normais nos filmes da Disney” (publicado no livro A cultura da mídia na escola: ensaios sobre cinema e educação, organizado por Maria da Graça Jacintho Setton) segue a mesma linha de contestação.

Blogs sobre cultura pop fizeram suas próprias listas sobre momentos sombrios ou sinistros de animações e desenhos voltadas para o público infantil. Alguns deles com cenas dos filmes mencionados (algumas foram removidas do Youtube, mas é possível localizar vídeos relacionados para quem tiver interesse):

Os 13 momentos mais sinistros de filmes da Disney e da Pixar, segundo o site IGN — a maior rede de youtubers de games do país (2015).

Os 1o momentos mais assustadores da Disney, publicado pela Disney Brasil (2014), mas citando cenas muito mais, digamos, sutis.

As 12 cenas mais sombrias de animações da Disney, (2012) publicado no Blog Monte Olimpo (sobre cinema e séries) e contendo vídeos das respectivas cenas.

10 momentos “sinistros” de filmes da Disney, (2011), publicado no blog de curiosidades Hype Science.

Algumas cenas são tão clássicas que se repetem em mais de uma lista. E também servem de mote para a compilação publicada em um vídeo no Youtube por um canal que se dedica a cinema e animações sobre os “momentos tristes e sinistros” de desenhos da Disney.

 

***

Dando ares mais acadêmicos à temática, o estudo mencionado no início do post (publicado na British Medical Journal), de autoria de Ian Colman e James Kirkbride, analisa a violência e as circunstâncias que envolvem mortes violentas em 45 produções de maior bilheteria destinadas ao público infantil, desde “A Branca de Neve e os Sete Anões” (1937) até “Frozen – Uma aventura congelante” (2013).

Os pesquisadores compararam, também, as mortes dos personagens principais dos filmes infantis com outros filmes adultos, também de grande bilheteria, nos mesmos anos, como “O Exorcismo de Emily Rose”, “Revelação”, “Pulp Fiction – Tempos de Violência”, “Os Infiltrados”, e “Cisne Negro”. Nos desenhos infantis, os personagens principais têm 2,5 vezes mais chances de morrer do que um personagem principal em um filme adulto. Já as chances de os pais dos personagens principais morrerem, segundo o estudo, foi cinco vezes maior em filmes infantis, comparados aos filmes adultos analisados.

As mortes em desenhos animados têm uma linha comum de violência: nos primeiros quatro minutos de “Procurando Nemo”, a mãe de Nemo foi devorada por uma barracuda, e cerca de quatro minutos de “Tarzan”, seus pais foram mortos por um leopardo. A lista de mortes comoventes é ampla, e envolve tanto mortes por arma branca (em “A Pequena Sereia” e “Bela Adormecida”) quanto por tiros (“Bambi”, “Pocahontas” e “Peter Pan”, por exemplo), além de cinco mortes por ataques de animais (“Vida de Inseto”, “Os Croods”, “Como Treinar Seu Dragão”, “Procurando Nemo”, “Tarzan”), sugerindo mortes macabras são comuns em filmes para crianças.

Os pesquisadores também relataram que não encontraram nenhuma diferença nos níveis de violência entre 1937 (“Branca de Neve”) e 2013 (“Frozen”) nos filmes infantis da Disney, que em comparação são filmes de adultos que mostram uma menina assombrada. O estudo também destaca as mortes violentas nos desenhos infantis e cita o exemplo da “Branca de Neve”, em que a Madrasta (a rainha má) é atingida por um raio, cai de um penhasco e é esmagada por uma pedra, depois de ser perseguida por sete anões furiosos em busca de vingança.

Os autores do estudo identificaram, em sua amostra, que as causas mais comuns de morte nos filmes infantis incluem ataque e defenestração causadas por animais, o que poderia levar as crianças a desenvolver potencial temor a animais, alturas, ou ambos. Já as mortes por assassinato, em taxa maior do que as de filmes direcionados para faixa etária adulta, segundo os pesquisadores podem ser particularmente traumática para os jovens espectadores por causa de sua intenção inerentemente violenta.

Além de identificar que os pais (ou personagens que ocupem essa função) dos personagens centrais estão mais propensos a morrerem no início da trama, os pesquisadores também identificaram que os antagonismos entre os bons e os maus nos filmes infantis perpassam uma complexa implicação moral em função das mortes: a justificativa moral duvidosa de que “bandidos merecem morrer”.

Os pesquisadores avaliam que os filmes de animação para crianças, ao invés de serem alternativas inócuas para a carnificina típica de filmes americanos, são de fato focos de assassinato e caos. E alertam os pais que as classificações indicativas vinculadas aos desenhos animados não significa que seus filhos terão uma experiência de visualização livre de violência.

Por fim, acerca da morte violenta nos filmes infantis, os autores destacam o que já se sabe sobre a temática: que as crianças pequenas não têm uma compreensão completa do conceito de morte; que a morte é um tema comum em filmes norte-americanos e que as crianças assistem muitos filmes. A este estado da arte, o estudo de Colman e Kirkbride acresenta que personagens importantes em filmes de animação para crianças morrem mais rapidamente do que personagens importantes em filmes destinadas a adultos; que as crianças que assistem filmes de animação são frequentemente expostas a cenas de assassinato e não são poupadas de assistirem causas horríveis (o potencialmente traumática) de morte, como tiros, facadas, e ataques de animais.

Você pode conferir, em inglês, a versão do artigo publicado por Ian Colman e James Kirkbride:

CARTOONS KILL: casualties in animated recreational theater in an objective observational new study of kids’ introduction to loss of life.

Uma versão resumida desse texto foi publicada anteriormente na página do Facebook do Mídias, Educação e Tecnologias, em 18 dez. 2014.

Linguagens líquidas, projetos voláteis

Todos os anos a editora, que pertence à Universidade de Oxford, no Reino Unido, escolhe a palavra que melhor representa os sentimentos ou as preocupações do ano e que, de acordo com o júri, será também uma palavra com “potencial duradouro” e “significado cultural”. A palavra do ano, pela primeira vez, não é uma palavra – é uma imagem. Além disso, é um emoji, símbolo usado para expressar sentimentos e emoções. Enquanto tem gente criticando o resultado, eu prefiro ficar com o recado: (pelo menos) em 2015 as pessoas estão preferindo imagens às palavras e emoções à frieza da objetividade. (Talita Rosa, jornalista do Grupo RBS, via Facebook).

emoji

Um emoji, pela primeira vez, é escolhido a “palavra do ano” pela Oxford

É consenso e senso comum que a cibercultura instaurou novos processos comunicacionais, mediados por tecnologias digitais e móveis. A possibilidade de combinar texto, som e imagem trouxe novos ingredientes para o debate sobre a comunicação contemporânea, seja na linguística, na semiologia ou na educação. Não são apenas novas possibilidades de se comunicar, com novos códigos para além do alfabeto formal: as inovações ocorrem de modo cada vez mais intenso e se apropriar de novos códigos e signos da comunicação ubíqua passou a ser sinônimo de sobrevivência.

O internetês, por exemplo, foi e continua sendo pedra no sapato de muitos professores no que se refere à escrita dos alunos e aos dilemas que emergem dessa comunicação. Mais recentemente os memes da internet deram a tônica da comunicação mediada por tecnologias digitais. Os gifs, presentes desde os primórdios da web, ressurgiram graças a aplicativos baseados em Tumblr. O site “Como eu me sinto quando…” talvez seja o melhor exemplo dessa forma de comunicar e expressar sensações e emoções. Até mesmo o Facebook, que segundo boatos não permitiria o uso de gifs em suas páginas e perfis de usuários, esse ano passou a permitir esse tipo de aplicação. E, por fim, emoticons e emojis não apenas complementam a comunicação escrita (com ou sem internetês), mas às vezes é, nos aplicativos de mensagem de Skype, do Facebook ou do WhatsApp, a própria mensagem, sem uso de palavras.

Esse cenário comunicacional líquido, fluído e móvel (como alerta Lucia Santaella em suas obras Linguagens líquidas na era da mobilidade [2007] e A ecologia pluralista da comunicação: conectividade, mobilidade, ubiquidade [2010]) coloca novos desafios tanto para quem lida com comunicação quanto para professores, imbricados na cultura digital, direta ou indiretamente. É isso o que Mônica Fantin propõe, já em 2012, em seu artigo sobre as multiliteracies na escola:

Os cenários da cultura contemporânea colocam diferentes desafios para o professor, que além da capacidade de escrever e ler, necessita emergir na cultura e dominar os códigos das diferentes linguagens. Nesse contexto, a educação para os media, entendida neste texto como mídia-educação, discute sobre as possibilidades educativas de ver, interpretar, problematizar e produzir os mais diferentes tipos de textos de forma crítica e criativa, utilizando todos os meios, linguagens e tecnologias disponíveis. Considerando que os media não podem mais estar excluídos de um processo de alfabetização, precisamos pensar sobre o que significa estar alfabetizado no século XXI e isso implica ressignificar os conceitos de literacia, media literacy e das multiliteracies.

No entanto, quando um emoji é escolhido por uma instituição tradicional como a Oxford para ser a “palavra do ano”, com potencial duradouro e significado cultural, outras questões mais complexas são inseridas no debate. Uma delas é a compreensão de que a linguagem paradoxalmente, à medida que está cada vez mais registrada no tempo, nas diversas plataformas digitais, está também cada vez mais volátil. Compreender essa volatilidade — em um contexto histórico em que o tempo cada vez mais se intensifica e que aumenta nossa sensação de estarmos sempre atrasados em relação ao presente — para os significados sociais que emergem da ubiquidade e da mobilidade parece ser uma questão cada vez mais urgente, quando pensamos no emoji que foi escolhido pelo júri como palavra do ano, concorrendo com palavras como “refugiado”, dentre outras.

De um lado, a volatilidade da linguagem significa a volatilidade de como vemos e nos posicionamos no mundo, uma vez que a linguagem é o que molda nosso pensamento e nos diferencia de outros animais. De outro lado, essa volatilidade expressa uma sociedade impaciente, com ausência de projetos de longo prazo (a esse respeito, ver A corrosão do caráter, de Richard Sennett) e que se traduz numa sociedade ansiosa e doente (a esse respeito, ver A sociedade do cansaço, de Byung-Chul Han). Mais do que isso: combinado com identidades cada vez mais provisórias e mutantes, das quais Zygmunt Bauman nos fala, a customização e a personalização próprias da cultura digital parecem estar nos levando cada vez mais em direção ao individualismo (ou a projetos fragmentados e igualmente voláteis) do que a projetos de sociedade. Talvez isso explique porque um grande dilema da Europa, hoje (a questão dos refugiados) tenha um significado cultural — e portanto, coletivo — menos duradouro do que um emoji que representa “chorar de rir”.

Neste sentido, não basta dominar as técnicas das multiliteracies, mas desenvolver as competências multimidiáticas sob esse aspecto, incluindo as conotações políticas e sociais da comunicação no tempo presente. Isso inclui levar em conta a urgência, o excesso e a volatilidade da comunicação, que esvaziam as permanências e aceleram a necessidade do novo, enfraquecendo vínculos sociais e políticos mais abrangentes: todos ficaram chocados com o menino sírio afogado na beira da praia, mas quase ninguém lembra dele; e continuamos à espera do próximo evento para ficarmos chocados, sensibilizados, mudar nossa imagem do perfil do Facebook por dois ou três dias, até o próximo ‘evento’, e assim sucessivamente.

Por fim, a escolha de um emoji como palavra do ano lembra aquela piada involutiva: depois de desenvolver complexos códigos de linguagem no decorrer da história, a humanidade estaria voltando a se comunicar por imagem tal qual os humanos da Idade da Pedra, quando ainda não havia a técnica da escrita. O que remete a uma segunda questão: como a imagem é uma linguagem ‘menos precisa’ do que a escrita [a esse respeito, ver os problemas da semiótica presentes em Modos de Ver, de John Berger. Lembre que como seres imagéticos, ao lermos uma imagem somos sempre coprodutores dela, muitas vezes distorcendo seu sentido original, fora de contexto], estaríamos nos encaminhando para um período de excesso de comunicação, porém, com comunicação menos eficaz?

O que entra e o que sai da programação Netflix

netflix

Se você é assinante do Netflix já deve ter passado pela experiência de incluir na lista de favoritos um filme ou documentário para assistir mais tarde e, ao procurar, não encontrar mais a opção. Ocorre que o Netflix não é um repositório infinito de filmes e séries — até o momento. E esporadicamente retira de sua programação alguns título, assim como inclui novos. E dezembro é um mês favorito do serviço de streeming mais popular do Brasil para promover grandes mudanças.

Para não ficar sem assistir aquele título que você reservou há tempos e nem lembra mais, fique atento. No total, quase 200 títulos entre filmes, documentários, séries e shows serão retirados da programação do Netflix nos próximos dias, incluindo títulos infantis e produções premiadas. Novos títulos estão previstos na grade e, apesar das novidades, aparentemente as perdas são maiores do que os ganhos.

Confira a lista do que sai e do que entra na programação do Netflix nos próximos dias.


O que sai da programação

01 de Dezembro
A Espada Era a Lei
A Lista de Clientes
A Máfia Nunca Perdoa
A Praia dos Desejos
A Última Casa da Rua
A Verdadeira História do Gato de Botas
Alice Cooper’s Night of Fear
America’s Next Top Model: Temporada 18
America’s Next Top Model: Temporada 19
Angelina Ballerina – Dançando no gelo
Angelina Ballerina – O balé do quebra-nozes
Angelina Ballerina – O balé dos sonhos
Angelina Ballerina: Adoro dançar
Angelina Ballerina: Pop Star
Atlantis – O reino perdido
Atomic Train
Babes in Toyland
Barney – A festa de halloween
Barney – Um dia musical no parque
Barney – Um passeio pelo bairro
Barney de A a Z
Barney e seus amigos
Barney: Egg-cellent Adventures
BBC Electric Proms 2009: Robbie Williams
Blur: Live at Hyde Park
Bob o Construtor – Área de trabalho: Estradas e pontes
Bob the Builder on Site: Skyscrapers
Bob the Builder: On Site: Project Planet
Bob the Builder: Snowed Under / The Bobblesberg Winter Games
Bob, o Construtor – Casas & parques
Bob, o construtor
Britney Spears Live: The Femme Fatale Tour
C.H.O.M.P.S.
Capitão América
Carga Explosiva
Cativeiro
Charlie Chan: The Secret Service
Coldplay Live 2012
Cosmic Quantum Ray
Doctor Who: Temporada 5
El Magico
Enfeitiçados
Enterrado Vivo
Eu Estou Esperando Por Você
Eye of the Tiger
Flyboys
Gargoyles
Garota vs. Monstro
Happy Endings
In Concert: Elton John
In the Year 2889
Inspetor Bugiganga 2
James e o Pêssego Gigante
Krull
Leroy & Stitch
Let It Shine
Mergulho radical
Miracle Mile
Mission of the Shark: The Saga of the U.S.S. Indianapolis
No rastro da bala
No Tempo das Borboletas
O Filho de Deus
O Império das Formigas
O Mistério do Rádio
O prazer da sua companhia
O Ritual
Papai Fantasma
Pergunte ao pó
Pet Alien
Planeta do tesouro
Quase ilegal
Radiohead: The King of Limbs Live from the Basement
Randy Cunningham: 9th Grade Ninja
Rastarato
Robbie Williams: Live in Tallinn
Segundas intenções
Shake It Up
Shooting Starlets Musumet
Simply Red: Cuba!
Special Agent Oso
Spymate
The Big White
The Mean Season
The Noose Hangs High
The Secret Life of the American Teenager
The Set Up
The Video Dead
The Winds of Kitty Hawk
Thomas e seus amigos: Temporada 14
Thomas e seus amigos: Temporada 15
Thomas e seus amigos: Temporada 16
Trabalho Sujo
Truck Turner
Twitches – As bruxinhas gêmeas
Um Amor de Verdade
Um Tiro na Noite
Uma Prova de Amor
Undertow
Up the Creek
XSPB 6: Xuxa Festa
Xuxa- XSPB 7
Xuxa- XSPB 8
Xuxa- XSPB 10 – Baixinhos, Bichinhos e Mais
Xuxa- XSPB 11

02 de Dezembro
O Homem Mais Procurado

03 de Dezembro
A Espada Mágica – A Lenda de Camelot
A pedra mágica
As Novas Aventuras de Riquinho
Batman Eternamente
Como Cães & Gatos
Debi & Lóide – Dois Idiotas em Apuros
Looney Tunes – De Volta à Ação
Mensagem Para Você
O Gigante de Ferro
Trovão negro

06 de Dezembro
Pixo
Ultraman: The Next

07 de Dezembro
Rebelde Rio: Season 2

08 de Dezembro
A Família Flynn
Moonrise Kingdom

09 de Dezembro
300
Harry Potter e a Ordem da Fênix

12 de Dezembro
Kevin Hart: Let Me Explain

13 de Dezembro
O artista
Repórteres de guerra

14 de Dezembro
Afinado no Amor
Amores Imaginários
Austin Powers: O Agente Bond Cama
Batman – A Máscara do Fantasma
Blade: O Caçador de Vampiros
Blade: Trinity
Boy Meets World
Cowboys do Espaço
Dia de treinamento
Divinos Segredos
Do que as mulheres gostam
Efeito borboleta
Férias Frustradas de Natal
Férias Frustradas 2
Fomos heróis
Free Willy 2 – A Aventura Continua
Gatos Não Sabem Dançar
Gin Tama
Happy Feet- O pinguim
Lizzie McGuire Um Sonho Popstar
Looper: Assassinos do Futuro
Lucky Fred
No limite do silêncio
O labirinto do fauno
O Suspeito
O Vingador
Possessão
Profissão de Risco
Programa Amaury Jr – Viagens
Scooby-Doo
Sex and the City: O filme
Space Jam – O Jogo do Século
Super Onze
Teoria da Conspiração
Treze dias que abalaram o mundo
Tudo que uma Garota Quer
Um Ato de Coragem
Um Duende em Nova York
Um homem de família
Zack y Cody gemelos a bordo

15 de Dezembro
O que será de nozes?
Será Que?

16 de Dezembro
Bem-vindo à Prisão

17 de Dezembro
Medianeras
O Pequeno Nicolau

19 de Dezembro
Aconteceu em Woodstock
As aventuras de Peabody e Sherman
Cinderella
Nutri Ventures – Em busca dos 7 Reinos
Nutri Ventures: Videoclipes
Thor: O filho de Asgard
Video Brinquedo – A Grande Corrida
Video Brinquedo – Chapeuzinho Vermelho
Video Brinquedo – Mike Ensina Inglês
Video Brinquedo – Os carrinhos Ao Vivo
Video Brinquedo – Os Três Porquinhos

21 de Dezembro
Ancient Secrets of the Bible I
Cubo
HisteRia
O sonho da liberdade

22 de Dezembro
Assalto ao Banco Central
Sem saída
The Rover: A Caçada

23 de Dezembro
Ayahuasca: Vine of the Soul
Frances Ha

24 de Dezembro
Diário de uma paixão
Harry Potter e a câmara secreta
Mandando bala
Matador em perigo
O grande truque
Pacto secreto
Um sonho de liberdade

28 de Dezembro
O Esquadrão dos Monstros


O que entra na programação

1 de dezembro
Real Rob
The Goof Wife (6ª Temporada)
Elementary (3ª Temporada)
Star Wars: Uma Nova Esperança (episódio IV)
Houdini
O Dia do Galo
Trocando os Pés
Namoro ou Liberdade
Rio Perdido
Tese Sobre um Homicídio
Álbum de Família
A Common Man
Criando Asas
Final de Semana em Família
Diário de um Jornalista Bêbado
Dead Man Down
Biutiful
13 Assassinos
Picture This
Fast Food Nation
A Ressaca
Grande Menina, Pequena Mulher
A Family Thing
Seis Graus de Separação
A Galera do Mal
Fled
Kalifornia
The Duff

5 de dezembro
John Doe: El Vigilante

9 de dezembro
Modern Family (5ª Temporada)
Dèjá Vu
A Vida Marinha de Steve Zissou
Rei Arthur
Corpo Fechado
O Rei da Água
Mar de Fogo

10 de dezembro
Sob o Mesmo Céu

11 de dezembro
The Ridiculous 6

15 de dezembro
William & Kate

16 de dezembro
Música, Amigos e Festa

18 de dezembro
F is for Family (1ª Temporada)
Desconhecido

20 de dezembro
Operações Especiais

Fonte: 
Séries do Momento

Vendo e aprendendo #2 – A conquista da honra

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Mídia, guerra e convencimento

Na década de 1930, um programa de rádio na costa leste dos EUA transmitia uma espécie de radionovela, Guerra dos Mundos — inspirada no livro homônimo. Conta-se que ao anunciar, ao vivo, uma invasão alienígena (que era o mote da história) a rádio provocou um pânico coletivo nos ouvintes e muita gente foi para a rua para fugir ou enfrentar a ameaça. O incidente se tornou icônico para evidenciar o poder de convencimento da mídia sobre a opinião pública acerca de histórias verdadeiramente falsas ou falsamente verdadeiras, parafraseando Bourdieu em seu “Sobre a Televisão”. Embora esse relato quase centenário possa soar como prosaico, ainda hoje a opinião pública é formada pelo noticiário da TV, do jornal e da internet: a mídia é a lente com a qual vemos o mundo cotidiano, com um agravante: os jornalistas não trazem a informação; o fato, mas já trazem o fato interpretado. É por isso que acontecimentos como atentados em Paris ganham mais repercussão do que a resposta europeia aos terroristas sírios e, com isso, o bombardeio que atingiu populações civis e matou dezenas de crianças na Síria é um evento quase que desconhecido da massa.

A propaganda ideológica foi e é muito utilizada para convencimento da opinião pública. E, nesse contexto, o poder das imagens mexe com o coletivo quando elas são usadas nessas peças publicitárias. Como seres imagéticos, somos coprodutores de sentidos das imagens às quais somos expostos. Seu efeitos, em termos de sensações, emoções e sentimentos são muito mais imediatos do que outras formas de conteúdo, como textos (mas poderíamos incluir sons e cheiros que nos chegam por outros órgãos dos sentidos, tão importantes quanto a visão, mas usados de forma coadjuvante quando vemos). Sendo seres imagéticos, as primeiras formas de representar o mundo que utilizamos foram justamente as imagens, ainda hoje visíveis em sítios arqueológicos. A representação do mundo no que diz respeito a batalhas e guerras (e suas personalidades) se perpetuou através das gravuras e da pintura, até que no século XX o advento da fotografia acompanhou praticamente todas as principais guerras do século. Mais do que representar os acontecimentos (e, portanto, representar o mundo), a escolha da foto perfeita para estampar capas de jornais e revistas era — e é — a estratégia perfeita para produzir significados e formar uma opinião coletiva e consensual sobre determinado evento. Esse é o mote do filme A Conquista da Honra, sobre a icônica foto de guerra na Batalha de Iwo Jima, no Japão, no final da Segunda Guerra Mundial. Uma narração, nos primeiros minutos do filme, dá a tônica da história: “Muitas fotos foram tiradas naquela guerra. Mas a maioria ninguém queria ver […]. A foto certa pode vencer ou perder uma guerra”. A foto “certa” foi encontrada pelos EUA para dar fôlego a uma guerra que não era bem vista pela opinião pública norte-americana.

A história

A história do filme é sobre uma foto de guerra. Mas não uma foto qualquer: a foto “certa” que pode vencer uma guerra. O filme, cujo título original é Flags of Our Fathers é baseado no livro homônimo (2000), de autoria de James Bradley, filho de John Bradley, um dos personagens da foto icônica.
O diretor Clint Eastwood (consagrado em filmes como Os Imperdoáveis [1992] e Menina de Ouro [2004]) conseguiu um feito fantástico com “A Conquista da Honra”: aclamado como “obra prima” e “espetáculo avassalador”, o filme, provocativo e baseado em fatos reais, tirou do nevoeiro dos anos uma história que, se não esquecida, propositadamente foi deixada em segundo plano na participação norte-americana na Segunda Guerra. Trata-se da repercussão de uma das fotos mais emblemáticas do século XX e que muitos consideram como decisiva para mudar os rumos da guerra para os aliados.

Milhares de fuzileiros navais (estima-se em 70 mil) participaram da sangrenta batalha de Iwo Jima, uma ilha estratégica para o controle naval e aéreo e para manobras militares no Pacífico da Segunda Guerra. Àquela altura, a situação econômica do governo norte-americano e a opinião pública duvidosa sobre o desfecho da participação das tropas do país na guerra deixavam os EUA em posição delicada. Emboscados pelos japoneses encrustados na ilha montanhosa, os primeiros fuzileiros a desembarcarem foram destroçados pelo inimigo. No 5º dia de combate, um pelotão conseguiu avançar posições sobre os japoneses e, após a vitória parcial, um grupo de fuzileiros escalou um monte e hasteou a bandeira dos EUA na ilha. O efeito, para as tropas que ainda não haviam desembarcado e para os soldados que estavam na praia, foi animador (até então parecia impossível vencer os japoneses). Um político influente pediu a bandeira como prêmio e outro grupo precisou hastear uma segunda bandeira no lugar da primeira. Quase ninguém percebeu a troca.

Longe da emoção da vitória e já em ambiente bem mais seguro, foi esse segundo erguer de bandeira o que entrou para a história: registrado pelo fotógrafo Joe Rosenthal, a foto correu o mundo e foi reproduzida na capa de todos os principais jornais norte-americanos. Ainda que a vitória em Iwo Jima estivesse longe (a batalha duraria mais um mês após a foto), a imagem circulou pelo país como sinônimo de vitória dos aliados. E foi usada como estratégia do governo para angariar fundos para manter a guerra. A Conquista da Honra conta o regresso de John “Doc” Bradley (Ryan Phillippe), Rene Gagnon (Jesse Bradford) e Ira Hayes (Adam Beach) (os fuzileiros que ajudaram a erguer a bandeira morreram em batalha logo após a foto) em turnê pelos EUA promovendo a fotografia a fim de levantar recursos para a manutenção da guerra. Com encenações e simulacros (inclusive omitindo quem eram os verdadeiros protagonistas da cena) em apresentações para grandes públicos em estádios de futebol e em festas de elite e envolvidos em conflitos particulares, o trio enfrentou a polêmica de serem forjados heróis e as suspeitas de serem parte de uma fraude, ao passo que percorriam o país convencendo a opinião pública e empresários a comprarem bônus que seriam revertidos em suprimentos e equipamentos de guerra para as tropas em combate.

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A foto original de Joe Rosenthal durante a Batalha de Iwo Jima (1945)

Imagens de guerra e opinião pública: o papel da mídia

É notório o papel da fotografia na Segunda Guerra Mundial, de forma inédita. Além dos fotógrafos das próprias tropas (tanto das nazistas quanto as das aliadas), viajavam com elas correspondentes de agências de notícias que registratavam o cotidiano da guerra e seus horrores. Os acervos de fotografias da guerra são diversos e extensos, o que nos ajuda, atualmente, a compreender um pouco esse acontecimento histórico. Contudo, em termos de cobertura jornalística, algumas fotos mais impactantes eram selecionadas (tal como ocorre na atualidade) para expressar dado acontecimento. Nesse sentido, fica implícito — para não dizer oculto — que uma fotografia, por si só, já é um recorte da realidade, de acordo com a posição (política, de concepção de mundo, técnica e física no local do acontecimento) do fotógrafo. E que, em conjunto, as fotografias de um acontecimento formam um quadro complexo de análise, mas sozinha, pré-selecionada por outros, uma fotografia, sozinha, pode levar a equívocos. Esse é o caso da foto da batalha de Iwo Jima. O acontecimento emblemático do hasteamento da bandeira original nunca foi fotografado. A substituição da bandeira, sim; com outros personagens. E, no entanto, foi esse segundo acontecimento e esses outros personagens que entraram para a história.

Atualmente, com acesso mais amplo às fotografias da Segunda Guerra, vários outros sentidos podem ser atribuídos, diferentemente do que acontecia na época.  Atualmente, pelo conjunto de fotografias sabemos muito mais do que um leitor da Time sabia, naquela época, quando via uma imagem isolada do evento, normalmente veiculados em jornais e revistas acompanhadas de uma descrição muitas vezes redigida por quem nem estava no local da guerra. Atualmente podemos, inclusive, questionar muitas dessas descrições e perceber as fotos que foram encenadas, de uma maneira diferente do leitor que, na emoção do acontecimento, se deixa levar pelo impacto visual da imagem e pela descrição normalmente convincente dela. E essa é uma das principais lições do filme: ponderar até que ponto as imagens que nos chegam pela mídia nos dias de hoje são falsamente verdadeiras e verdadeiramente falsas e que, em última instância, contribui para formarmos nossa visão de mundo.

Em tempos de redes sociais na internet, muitas vezes é comum veicular imagens fora de contexto em “notícias” (que às vezes não passam de boatos ou, pior, falsas construções) para que se tornem virais. Em alguns casos, alguém percebe e vincula a foto em seu contexto original. Mas dificilmente isso faz diferença em uma publicação que pretende ser viral: ou seja, os danos da mentira são maiores do que a virtude de quem tem a competência midiática (e interesse e ética) para buscar a verdadeira informação/imagem.

Outro ponto importante que o filme remete é, justamente, o aspecto limitado de uma fotografia para representar uma realidade mais ampla em um noticiário: além da posição particular do fotógrafo, a imagem passa pela ‘seleção’ de um editor (também com suas posições e convicções próprias) e é amarrada pelo redator (que também possui sua visão de mundo). E tudo isso chega de diferentes maneiras a cada leitor que, com suas mediações (que dependem de sua posição e concepção de mundo; também), vai atribuir um sentido ao que vê/lê. Millôr Fernandes brincou, certa vez, com aquela velha máxima: uma imagem vale mais do que mil palavras? tente expressar isso numa imagem”.

Heroísmo e ostracismo: o preço da guerra

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Os personagens do filme e as personalidades originais: John Bradley, Ira Hayes e Rene Gagnon

“Todo imbecil acha que sabe o que é uma guerra, sobretudo quem nunca esteve numa. Gostamos das coisas simpes: o bem e o mal, heróis e bandidos. Há sempre um pouco dos dois. Quase nunca eles são quem pensamos que são”. Com essa reflexão, nos primeiros minutos de filme, Clint Eastwood deixa claro que, além da intenção do filme ser provocativa, existe uma espécie de pré-disposição da opinião pública em ver aquilo que lhes é apresentado tal como é apresentado. Uma cena que lembra heroísmo, mesmo que fora de contexto, se torna sinônimo imponderável de heroísmo consumado. O mesmo vale para seus personagens.

No filme, os seis personagens identificados na foto não correspondem necessariamente aos personagens reais que fincaram a bandeira americana em solo japonês, o que causava constrangimento e briga entre o trio que fazia a turnê de arrecadação de fundos para a guerra. Além disso, ainda que passem por heróis, um dos personagens, Rene Gagnon (Jesse Bradford) — no filme, o mais exultante em ser herói de guerra — foi ‘promovido’ a mensageiro porque seu sargento temesse que, ficando na vanguarda da tropa, ele fosse abatido com facilidade.

Já o personagem Ira Hayes, que não considerava nada heroico o que precisou fazer e o que viu na guerra, perseguido pelas lembranças de batalha passou a se embriagar durante a turnê e depois dela, constantemente se envolvendo em confusão. Uma delas porque um restaurante recusou a atendê-lo (Ira era descendente de indígena, constantemente alvo de piada das autoridades durante a turnê pela sua origem; e as regras do restaurante não permitiam que indígenas fossem recebidos).

Ovacionados em todos os círculos sociais como heróis, com o fim da guerra o trio experimentou o ostracismo. Ira, por exemplo, aparece num campo trabalhando como agricultor com outro trabalhadores. Rene, que fez muitos contatos durante a turnê, não conseguiu arranjar emprego com nenhum daqueles empresários que o queriam por perto.

Apesar das condecorações e homenagens dos envolvidos (e do status de ícone que a foto até hoje representa para os norte-americanos), os episódios retratados no filme parecem estar muito mais próximos de um passado à sombra da história oficial, muito mais romantizada.


 

Questões que podem ser problematizadas em Educação a partir do filme

  • A classificação indicativa do filme é de 17 anos, portanto, a faixa etária dos envolvidos deve ser levada em consideração para a realização de qualquer atividade.
  • Além de aspectos históricos sobre um importante episódio da Segunda Guerra Mundial, o filme fornece elementos para discutir sobre propaganda de guerra e os gastos que países como os EUA têm nas guerras nas quais se envolve.
  • O papel da mídia para forjar uma opinião coletiva (manobra da opinião pública) a partir de exemplos concretos contribui para refletir acerca de outros aspectos da opinião pública contemporânea envolvidas em notícias sensacionalistas da veículos de comunicação tradicional, bem como em boatos tendenciosos que se espalham por redes sociais na internet. Pode-se relacionar, nesse caso, a filmes de super heróis, como Superman e Homem Aranha, nos quais os jornais (e seus bastidores) são decisivos nas narrativas.
  • Em atividades sobre análise de imagens, é possível trabalhar sobre os critérios de escolha de imagens, bem como a relação imagem x descrição do fato/evento que a imagem pretende representar. Nesse sentido, pensar em outras legendas possíveis para fotos veiculadas em revistas e jornais ou problematizar as legendas vinculadas a imagens existentes nesses meios de comunicação.
  • A construção coletiva de um evento (como a própria Segunda Guerra Mundial) a partir de fotos existentes sobre ele também pode ser uma forma diferenciada de trabalhar os diferentes conteúdos.
  • Ao final do filme, são apresentadas fotos originais dos personagens e locais exibidos no filme. Sabemos que a pesquisa histórica é um importante aspecto nas produções dramatúrgicas e cinematográficas. Em trabalhos sobre cinema, esse detalhe do filme inspira a buscar em outras produções sobre personalidades e/ou eventos históricos as imagens originais relacionadas a eles para diferenciar aquelas produções que remetem a uma aproximação maior da realidade daquelas em que o autor recorre a licença artística para reinterpretar os aspectos da realidade. Dois exemplos opostos cabem nesse sentido: um deles, o filme Invictus (dirigido pelo próprio Clint Eastwood) mostra, ao final, fotos originais dos personagens e eventos que inspiraram a história. De outro lado, a minissérie brasileira A Casa das Sete Mulheres recria os personagens (incluindo fisicamente) e a própria narrativa de uma maneira bem mais romantizada; basta comparar os traços do protagonista na história real e na história ficcional e a reconstrução estética da produção, conforme explicado pelos autores da obra nesse vídeo.

 

Outras informações:

Ver post nessa página sobre usos de fotografias e manipulação.

A música The Ballad of Ira Hayes, de Johnny Cash, é uma homenagem a um dos personagens do filme.

Em paralelo com A Conquista da Honra, Clint Eastwood gravou e produziu Cartas de Iwo Jima, a visão japonesa da mesma batalha.

Ver, ouvir e aprender

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Embora não seja um pensamento predominante, existe ainda, em Educação, um pensamento de que as inovações tecnológicas convertem-se em inovações educacionais e formas mais novas vão substituindo as mais antigas. Em partes, talvez esse pensamento pode ser explicado pela pouca mudança nas práticas escolares, se considerados outros avanços na sociedade em termos de tecnologias. Em partes, esse pensamento talvez decorra de modismos à medida que uma nova tecnologia (um aparelho, um aplicativo ou uma rede social) surge e precisa ser incorporada no contexto educacional, muitas vezes bastando o uso pelo uso. Esse é um tema de frequente debate, como se pode ver nesse artigo da professora Rosa Maria Bueno Fischer, do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS, sobre as ‘mitologias’ em torno das inovações tecnológicas em educação.

Na perspectiva da Mídia-Educação, é consenso — mas também motivo de luta — de que uma mídia não substitui a outra, e embora haja uma convergência midiática sendo embutida em aparelhos e aplicativos, as diferentes mídias continuam coexistindo, cada uma com sua potencial contribuição à educação. Mas, por outro lado, proliferam estudos sobre práticas educacionais em novidades tecnológicas, o que pode ser problemático. Cerca de uma década atrás, o Second Life e o Orkut eram lócus privilegiado quando se tratava de inovações tecnológicas em educação. Um acabou sendo menos popular do que se anunciava, o outro simplesmente encerrou suas atividades. Mais recentemente, redes sociais como Twitter e Facebook passaram a ocupar esse lugar, bem como os blogs, que desde a última década vem sendo introduzida por meio de programas educacionais do Ministério da Educação no âmbito da prática dos professores.

Os games, em geral, também ocupam papel de destaque na produção acadêmica sobre inserção de tecnologias e mídias na educação. Quando Marc Prensky trouxe ao mundo os nativos digitais, em 2001, uma de suas críticas aos professores das escolas eram práticas analógicas, por exemplo, ensinar as crianças sobre a II Guerra Mundial exibindo “A Lista de Schindler”. Nessa perspectiva, parecia que as mídias antigas deveriam ser substituídas por tecnologias novas; games, computador e internet, pois a partir deles é que as crianças aprendem. Hoje sabemos que a história não é bem assim: não só os computadores e os games não instauraram processos revolucionários de aprendizagem, como também alguns aspectos de seu uso (tomar decisões rapidamente, reelaborar estratégias e fazer várias coisas ao mesmo tempo) não são necessariamente positivas. Ao contrário, como nos mostra Byung-Chul Han em seu livro “A sociedade do cansaço”, pode ser porta de entrada para várias psicopatologias do tempo presente.

O consumo intenso de tecnologias digitais sobre o qual William Powers se debruçou em “O BlackBerry de Hamlet” vai no mesmo sentido e chama a atenção para a falta de profundidade nas reflexões, o que requer tempo e distanciamento. Mais do que movimentos mecanizados de estímulo e resposta, às vezes quase como intuição ou instinto, que as práticas de games trazem, a contemplação, a reflexão e a atribuição de sentidos é o que diferencia a humanidade de outras espécies. Com um game sobre a segunda guerra mundial podemos aprender sobre estratégias militares, logística, capacidade de armamento, mas o quanto aprendemos sobre solidariedade e compaixão que “A Lista de Schindler” pode ensinar?

É preciso insistir nesse ponto: em se tratando de educação ou de formas de aprender, não deve ser o grau de inovação por ele mesmo o critério de escolha da tecnologia ou da estratégia a ser adotada, mas o objetivo de para que(m) serve o que está sendo aprendido e/ou ensinado. E nessa perspectiva, teatro, rádio, cinema e televisão são tão importantes quanto jogos digitais e computador.

Para resgatar essa importância, a partir de hoje, nesse blog, vamos trazer elementos para pensar o uso de produtos culturais do cinema e da televisão para a educação. Vamos começar com uma série sobre produções cinematográficas que refletem o papel da própria mídia nas sociedades abordadas por ela. A lista poderá ser sempre acompanhada nesse link.

Vendo e aprendendo #1 – Jogos Vorazes

A mídia no centro da dominação e da revolução

jogos

Todos sabem (pelo menos quem assistiu aos filmes) que a mídia ocupa lugar central na série Jogos Vorazes. Mais do que uma série de filmes de aventura voltada para o público jovem, Jogos Vorazes contém uma série de elementos narrativos que reportam a outras obras, como “1984” (1984, baseado na obra homônima de George Orwell) e “V de Vingança” (2006), no que se refere à opressão de um Estado totalitário que utiliza — e bem — a manipulação da informação para a manutenção do seu poder. E, no caso de Jogos Vorazes, o fator decisivo é um reality show anual em que jovens caçam uns aos outros até restar apenas um. Contudo, o que era para ser um estratagema ao estilo “pão e circo” (semelhante às arenas do coliseu romano, e tema também abordado no clássico “O Gladiador“) para manter o povo entretido enquanto é oprimido pelo poder central, o reality Jogos Vorazes carrega em si o germe da revolução. No final das contas, qualquer filme que faça os jovens pensarem sobre política e sociedade já é digno de reconhecimento.

A história
Para quem não assistiu aos filmes da saga, esse post é carregado de spoiler, por uma questão de necessidade.
Em um futuro distópico, um Estado totalitário se ergue após uma guerra civil que quase consumiu a nação. Unificados em torno de uma suntuosa capital, 13 distritos formam a PANEM. A unificação, porém, se dá por meio do medo e da força, além da coerção de diferentes formas — inclusive da informação e das formas de entretenimento. No terceiro filme da série (2014) o ditador, Presidente Snow, fala do ‘contrato’ que rege as relações entre capital e distritos: os distritos fornecem trabalho e produção e em troca a capital lhes fornece segurança. Isso sintetiza o que é mostrado nos dois primeiros filmes da série: enquanto a capital, imponente, parece uma atualização de Roma em seus tempos mais esplendorosos, os distritos são apresentados como vilarejos de operários, com ruínas, miséria e medo. Enquanto os holofotes, o colorido e as luzes fazem da capital um lugar em constante noite de Oscar, nos distritos o cenário é cinzento e sombrio. Enquanto na capital as pessoas ingerem bebidas que lhes permitem vomitar para poder comer mais nas festas de gala, nos distritos a população disputa comida com porcos (como na cena do primeiro filme envolvendo os protagonistas Peeta e Katniss). Isolados, os distritos só sabem do que acontece no país pela mediação (manipuladora) da capital — a fragmentação de forças sempre foi uma estratégia de poder.
Na PANEM, qualquer possível ameaça de um levante popular é reprimido com violência e rigor. E isso vale para coisas banais e cotidianas, que podem ser consideradas subversivas. Usando da perspectiva do ‘duplipensar‘ que George Orwell usou em “1984”, a polícia (repressora, violenta e que executa em praça pública qualquer ameaça à ordem) é chamada de Pacificadores. Bem armados dentro de suas impecáveis armaduras brancas, quase nunca mostram o rosto.
Para lembrar ao povo do poder do Estado e do que ele considera como memória ativa para que novos levantes populares não ocorram, foi instituído os “jogos vorazes”, para o qual, todos os anos, os distritos enviam jovens de 12 a 18 anos para lutarem até a morte. Eles são chamados de “tributos” dos distritos à capital. Os jogos são transmitidos em tempo real, como o melhor pacote de assinatura de programas do tipo Big Brother. É na edição de número 74 dos jogos que a história começa, quando uma jovem se oferece como ‘voluntária’ para salvar a pele da irmã de 12 anos que havia sido sorteada para participar do programa.

Crítica aos reality show
Mesmo considerando uma sociedade distópica, parece uma atrocidade aplaudir programas de TV em que garotos e garotas se matam ao vivo, certo? Errado. Assim como na Roma antiga o público lotava as arenas para assistirem gladiadores lutando violentamente e sangrando até morrer, na versão futurística desses jogos a morte é convertida em banalidade e a violência espetacularizada para um público que só se importa com o show- business. Pouco importa se, todos os anos, 23 crianças e adolescentes irão matar e/ou morrer — às vezes de forma violenta: o que conta é o espetáculo, para o qual há uma grande preparação de bastidores, entrevistas sobre futilidades e desfiles grandiosos dos participantes. Assim como na vida real existem pessoas que sonham em fazer carreira a partir da participação em reality shows (Big Brother Brasil é exemplo emblemático, mas não único, nesse sentido), na versão distópica também há carreiristas em distritos mais próximos à capital dispostos a ‘fazer história’ nos jogos vorazes: isso implica numa boa encenação e em boas habilidades para matar. E o público adora. Se na vida real o bordão ‘paredão’ (originalmente ligado a paredão de fuzilamento) foi esvaziado de sentido, nos jogos vorazes ser eliminado do programa significa necessariamente a morte (anunciada com tiros de canhão e, no final de cada dia, com uma síntese dos eliminados. Tal qual Big Brother, os apresentadores e comentaristas do programa espetacularizam as ações, decisões e escolhas como se fossem apenas elementos do programa, e não uma questão de sobrevivência.
Embora embutida nos filmes da saga de forma mais ou menos explícita, essa crítica aos reality show nem sempre é percebida por quem assiste aos filmes. Não se trata apenas da futilidade e superficialidade perante à vida, mas de uma inspiração nos melhores reality da atualidade e nos comportamentos predominantes da opinião pública sobre eles para, a partir daí, fazer a crítica: as cargas emocionais, os favoritos do público, todos os mecanismos de aceitação e rejeição dos participantes, os jogos de aparência e virtuosidade (uma forma de agradar o público e angariar patrocinadores que, por sua vez, diz respeito a uma questão de sobrevivência), as manipulações de bastidores e todo o arcabouço de engendramentos que tornam Big Brother fenômeno midiático estão presentes em jogos vorazes, no qual se acrescenta ‘apenas’ o ingrediente irreversível da morte. Em última instância, a distopia dos jogos vorazes não estão tão distantes dos reality do tempo presente, nos quais heróis, vilões, paredões e eliminações têm seus sentidos redimensionados.

A centralidade da mídia
Num Estado distópico no qual um reality show é central para a manutenção do poder, por premissa a mídia também o é. E, nesse sentido, todos os envolvidos com ela também ganham relevância. Mesmo após os jogos, os sobreviventes ganhadores também têm sua vida espetacularizada, fazendo uma espécie de tour pelos distritos afirmando a generosidade da capital. Tudo devidamente editado pelo poder central. No mesmo sentido, o próprio presidente do Estado aparece como ‘dono’ da emissora, ‘sugerindo’ que produtores fracassados se desliguem do programa — em outras palavras, sugerindo o suicídio.
Mas ao mesmo tempo em que a mídia é central para a manutenção do poder — tal qual em nossa sociedade — não devemos esquecer que ela pressupõe mediação e, portanto, espaço para contestação, ainda que muitas vezes de forma limitada. Em Jogos Vorazes, ao final do primeiro filme, o poder do Estado é contestado, ainda que implicitamente, quando os últimos participantes da edição do jogo decidem em conjunto se suicidar, em vez de tentar matar um ao outro [essa descrição é simplista para evitarmos mais spoilers. Existem outros elementos mais complexos envolvidos neste desfecho], contrariando as próprias regras do jogo e seu sentido de ser. A partir daí, a candidata a heroína do jogo vira uma inimiga do Estado e passa a ser coagida de todas as formas. Graças a um estratagema dos produtores dos jogos em função da “edição especial” de 75 anos, ela é inserida novamente no ano seguinte dos jogos vorazes. Mais do que matar a personagem da protagonista Katniss, o Estado (personificado no presidente Snow) pretende, antes, matar a sua imagem subversiva de suposto enfrentamento às regras. No entanto, os simulacros próprios da mídia iludem o próprio presidente, enganado pela sagacidade do produtor Plutarch Heavensbee que vê em Katniss a imagem de uma possível revolução. O último ato de Katniss no segundo filme da série é, ao mesmo tempo, revolucionário e emblemático no sentido de potencial papel da mídia para resistência, ao invés de resignação; de contestação em vez de dominação; e significa o fim do programa e o início de uma revolução social [assista aqui].
Embora até nisso Katniss tenha sido manipulada pelo produtor do programa, pelo seu mentor e por alguns dos participantes, a importância da mídia para a sequência dos filmes é vital. E, no que se refere à revolução social que começa a tomar formas, informação e contra-informação por meio de dispositivos midiáticos passam a ser central, como em qualquer guerra. Nos distritos, a programação midiática central imposta pelo Estado começa a ser corroída pela inserção clandestina de propagandas pró-revolução feitas a partir da imagem de Katniss como personagem revolucionária, a partir de gravação de cenas reais. A propaganda, como se sabe, sempre foi um elemento importante de guerra (a esse respeito, ver “A Conquista da Honra“): ela é quem convence a opinião pública para o empreendimento de guerras, tal como a revista Time foi um importante instrumento de guerra ideológica na Segunda Guerra Mundial e tal como a imprensa internacional, atualmente, repercute de formas diferentes episódios como atentados em Paris e na Nigéria, ataques do Estado Islâmico e bombardeio de civis pelo Ocidente na Síria (que já atingiu alvos como o hospital humanitário do Médicos Sem Fronteiras, em 2015). Em síntese, tal como na vida real, em Jogos Vorazes as tecnologias de comunicação e a própria informação carregam as ambiguidades de promover fragmentação, mas também a união em torno de interesses comuns dos grupos que as dominam.

Questões que podem ser problematizadas na Educação a partir do filme

  • O papel do entretenimento em diferentes períodos históricos para majoritariamente a conformação, mas também como espaço ainda que limitado de contestação da ordem social (lembramos que o estratagema do “pão e circo” vem desde a Antiguidade, mas outras formas de expressão como o teatro na Idade Média e na Renascença; o cinema e o rádio, ainda que não necessariamente como meras formas de entretenimento, também usam delas para a crítica aos modelos sociais vigentes em diferentes períodos históricos).
  • Os simulacros, as aparências enganosas e a omissão e/ou distorção de informações como forma de ganhar a opinião pública em torno de um projeto.
  • Os mecanismos aparentemente inofensivos utilizados para a manutenção das relações de poder.
  • As relações entre jogos vorazes e outros jogos perpetrados em reality show da atualidade.
  • As relações de poder entre capital e distritos que aparecem no filme (e como o modo de vida das sociedades aparece nesses diferentes contextos).
  • A questão da imagem, da linguagem e dos discursos, decisivos para convencimento da opinião pública.
  • Os limites e as potencialidades da mídia para que possamos ver (e compreender) o mundo para além do aparente mostrado por ela.
  • A permanência do trabalho, explorado e alienado, como fator de riqueza de uma pequena parte da sociedade (casualmente, a “capital”) em detrimento da miséria nos distritos – independentemente do período histórico.
  • Os elementos (técnicos, artísticos, conceituais; as cores e os cenários) utilizados pelo filme para retratar capital e distritos.
  • O protagonismo das mulheres nas revoluções sociais, presente em diferentes momentos históricos.
  • Conceitos de utopia, distopia, totalitarismo e revolução social como elementos para pensar a sociedade, os governos e a história.

Lembrou de mais algum elemento que pode ser trabalhado ou já utilizou esse filme em sala de aula? Conte pra gente.


Mídias e práticas políticas e sociais

Desde pelo menos o último dia 6/11, estudantes têm ocupado escolas públicas em SP. No início era um movimento ‘visível’ apenas em mídias alternativas. Uma nota ou outra saía na imprensa tradicional. Na última terça-feira, dia 17, o programa Profissão Repórter, da TV Globo, deu atenção ao caso. Mas então, a mídia tradicional já estava perdendo feio para as mídias alternativas, concentradas na internet, que têm feito a cobertura das ocupações.

Blindado pela mídia e certo de que seria um movimento passageiro, o Governo de SP, como sempre, usou da força policial contra estudantes secundaristas e professores para reprimir as ocupações. Nas primeiras ocupações, foi cortado o fornecimento de água e energia para forçar os estudantes a se retirarem do prédio. O efeito foi contrário. Vídeos da truculência policial se espalharam pela internet, mas pouco foi dito sobre isso na mídia tradicional. Nos últimos dias, dezenas de escolas foram ocupadas, inclusive escolas que não estavam na lista para serem fechadas pela ‘reforma’ prevista pelo Governo do Estado de SP. Já se fala em 60 escolas ocupadas por estudantes. Organizados em coletivos independentes via internet, o movimento segue resistindo e ganhando adesão.

Ainda é cedo para saber os resultados desse movimento, que muitos têm taxado de ‘invasão’, muitos têm tentado desqualificar, dizendo que se trata de um movimento partidário, sem que haja nenhuma evidência disso: ao contrário, nos materiais que seguem sendo divulgados na internet, esse é um movimento deles, de garotos e garotas que não querem que suas escolas sejam fechadas. Não existe um foco de liderança, o movimento aparenta ter respaldo dos pais e dos professores e a pauta é uma só: não fechem as escolas.

O movimento, até agora, mesmo com a pouca visibilidade fora do estado de SP e nos veículos de comunicação tradicionais, tem sido empolgante e dado aos adultos boas lições de cidadania, com teor muito mais crítico e definido do que muitas manifestações populares que temos assistido nos últimos meses.

Não se trata de um movimento ‘melhor’ do que outros, mas certamente é um movimento diferente, com o qual as autoridades ainda não sabem muito bem como lidar: movimentos organizados pela internet e que usam da irreverência própria dos jovens estudantes e de recursos da cultura digital que essa geração aprendeu tão bem a usar, com miscelânea de linguagens e conteúdos audiovisuais para veicular suas bandeiras de luta, como os que estão presentes nesse vídeo (esteja logado no Facebook para assistir).

escola
Trata-se de um movimento que, mesmo não tendo adesão imediata da mídia tradicional, faz uma cobertura midiática em tempo real com o uso de dispositivos móveis e com atuação de dar inveja a muito jornalista formado. Um movimento que se fortalece nas redes sociais na internet a cada dia, com a criação de novas fanpages sobre ocupações e articulação dos diferentes ativistas por meio de aplicativos de celular e nas próprias páginas — típicos de movimentos sociais totalmente novos, de tipo difuso e emergente, sem liderança definida ou identificável e baseada no uso das redes, que Cocco e Albagli (2012) analisam em seu livro “Revoluções 2.0“: Dado o modo de vida segmentado e fragmentado da contemporaneidade, a web tem se apresentado também como terreno de lutas e de “práticas militantes que funcionam como espaço de recomposição e de produção de redes políticas, afetivas […], compartilhamento e cooperação: o espaço para a construção de percursos de resistência e de produção comum”.

Se o movimento dos estudantes em São Paulo será enfraquecido, sufocado, reprimido ou deslegitimado, ou ainda, se conseguirá, ao menos em partes, o objetivo de evitar fechamento de escolas estaduais, só o tempo irá dizer. O que estamos aprendendo com esses adolescentes é um jeito diferente de ocupar os espaços políticos e um jeito diferente de fazer política, sem o conservadorismo ou o ódio (que tem marcado recentes manifestações pelo país) e com um nível de politização muitas vezes mais maduro do que os presentes nas ‘manifestações dos adultos’ que insistem na permissão para “deletar a diferença” e que carecem de uma visão de totalidade para encaminhar suas demandas.

Atualização:

No dia seguinte à publicação desse texto e diante do número de 70 escolas ocupadas, o Governo de São Paulo retrocedeu, ‘adiando’ a reforma anunciada. A decisão foi vista como forma de desmobilização das ocupações, visto que  uma série de medidas a serem negociadas dependeria da desocupação das escolas. Dois dias após a publicação do texto, o número de escolas ocupadas aumentou para 91, segundo informações não-oficiais.