Arquivo mensal: outubro 2016

5 anos de Mídias, Educação e Tecnologias

Em 2011, no Brasil, o Facebook ainda não era a rede social sem concorrência e sem alternativas concretas. O Orkut ainda era o preferido, principalmente entre os usuários adolescentes e jovens. Em 2011 era inimaginável o seu fim. Assim como o início do WhatsApp. E o WikiLeaks, indicado ao Prêmio Nobel da Paz naquele ano, por um parlamentar sueco, era uma possibilidade real de ciberdemocracia planetária. Assim como a Primavera Árabe, na qual o uso das mídias sociais na internet foi fundamental.

Em 2011 ainda tínhamos uma sede incontrolável por conectividade e quase ninguém se preocupava com os efeitos colaterais de seus excessos — de fato, o livro “O BlackBerry de Hamlet” nascia nesse ano, pregando uma desconectopia como resposta ao excesso de telas no nosso cotidiano. Em 2011, a luta por uma internet livre estava mais forte do que nunca, diante das ameaças também mais fortes do que nunca para minar um território até então dominado pela contracultura digital. A internet era, com seus usuários, um local privilegiado para fugir das mídias de massa manipuladoras e consolidadas. Era.

Em 2011, o clima político e social no país era muito mais brando e, consequentemente, os conteúdos que repercutiam nas redes sociais ainda eram aqueles ligados às comunidades divertidas do Orkut, a músicas e clipes compartilhados na internet (os videoclipes haviam migrado definitivamente para o YouTube, e os que não haviam migrado por obra das gravadoras eram migrados — com menos qualidade, é verdade — na marra pelos próprios usuários, que estavam remixando tudo, numa efervescência cultural bem mais livre do que hoje em dia, com os blogs especializados e artistas profissionais de internet). Uma olhadela a cinco anos no tempo, nas páginas da internet, permite evidenciar algumas coisas interessantes, bem diferentes das de hoje: o conservadorismo carrancudo (parente do extremismo e do fascismo) não tinha muita adesão na rede. Os que xingavam, descarregavam seu ódio ou ofendiam eram simplesmente banidos da maioria das comunidades — e esse era o cartão de visita da maioria das páginas. Os “haters” não transitavam tão tranquilamente pelo ciberespaço, mas já existiam, sob a forma de fakes: hoje em dia, assumem sua identidade sem nenhuma cerimônia. Uma primeira vista nos vídeos, fotos e posts dessa época, em boa parte das redes sociais, permite identificar uma predominância de adesão a causas nobres, ode a amizades (quem não lembra dos depoimentos do Orkut?) e à esperança. O futuro — social e da internet — não se apresentava tão nebuloso como hoje e os comentários nas redes sociais definitivamente não eram parte de uma arena polarizada de lutas. Não havia (ao menos toleradamente) um fluxo de ódio capaz de transbordar do mundo on-line para o mundo off-line e, quando isso acontecia, as pessoas ficavam estarrecidas. Muito diferente dos dias atuais, em que grupos se especializaram em criar perfis fakes, disseminar boatos e coordenar ataques a grupos e pessoas, no mundo digital e físico. Ou, como dizia Renato Russo, o futuro não é mais como era antigamente. Mais do que mero saudosismo, a comparação das redes sociais de 2011 e de 2016 deixa poucas dúvidas de que retrocedemos enquanto sociedade e humanidade.

Em 2011, o livro “Facebook e educação: publicar, curtir, compartilhar” ainda era inimaginável. E o uso do Facebook par apoio a aulas ou projetos educacionais era muito, mas muito restrito, muito diferente dos dias atuais. Em outubro de 2011, iniciamos o projeto de usar o Facebook como estratégia e recurso educacional para a disciplina “Mídia, infância e educação”, para o semestre 2012/1. E o primeiro desafio foi fazer com que metade da turma tivesse um perfil no Facebook — o que hoje pode soar como algo prosaico. Terminado o semestre, o projeto continuou, sob o nome Mídias, Educação e Tecnologias, com outro viés e maior abrangência, acompanhando as transformações na sociedade e suas repercussões na cultura digital e no cotidiano em geral.

Em cinco anos muita coisa mudou. E a internet se tornou um lugar muito mais inóspito, um meio termo entre a utopia e a distopia, se aproximando cada vez mais dessa última. E para resgatar um pouco dessa história e, quem sabe, do caminho que deixamos de seguir, a página iniciou um projeto de humanização da internet, sem pretensão de ser viral ou começar uma corrente: mas apenas para aliviar a tensão e o peso do Facebook com suas bolhas ideológicas e haters, com sua falta de diálogo e muros intransponíveis de falta de empatia que, no mais das vezes, leva amigo a bloquear amigo, familiares a se excluírem e colegas a usar aquela útil opção de deixar de ver o que o colega postou.

Nos 5 anos de Mídias, Educação e Tecnologias, todo dia terá uma música bacana na página. Toda semana um livro sobre os temas que passam na página e no blog. Todo mês uma sessão especial direto do blog. E os fieis seguidores da página, professores ou estudantes, podem enviar inbox para sugerir novos assuntos e temas para publicação na página e/ou no blog.