Arquivo mensal: novembro 2016

Vídeos das aulas de curso da UNICAMP estão disponíveis na web

A Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas disponibiliza 15 aulas da disciplina Pedagogia Histórico-Crítica e a Escola Pública.

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As aulas da disciplina Pedagogia Histórico-Crítica e a Escola Pública, oferecida pelo Programa de Pós-graduação em Educação da FE-UNICAMP, sob a responsabilidade do professor José Claudinei Lombardi, estão disponíveis no YouTube. A iniciativa é da Faculdade de Educação da Unicamp. Ao todo, são 15 aulas que ocorreram no segundo semestre de 2015, algumas com a participação do professor emérito Dermeval Saviani.

Lista das aulas disponíveis:

Aula 1 – Introdução
EXPOSITOR: Dermeval Saviani

Aula 2 – Fundamentos Históricos e Filosóficos da Pedagogia Histórico-Crítica
EXPOSITOR: Newton Duarte

Aula 3 – Fundamentos Psicológicos da Pedagogia Histórico-Crítica
EXPOSITORA: Lígia Márcia Martins

Aula 4 – Pedagogia Histórico-Crítica como teoria pedagógica para uma escola em tempos de transição
EXPOSITOR: Cláudio de Lira Santos Júnior, José Claudinei Lombardi e Paulino José Orso

Aula 5 – Pedagogia Histórico-Crítica e Concepção de Educação Integral e Tempo Integral
EXPOSITORES: Antonio Carlos Maciel e Mara Regina Martins Jacomeli

Aula 6 – Gestão da Educação e da Escola
EXPOSITORES: José Claudinei Lombardi, Luciana Coutinho e Marlene Andrighetti Bialeski

Aula 7 – Implementação do Currículo em Redes Municipais
EXPOSITORAS: Juliana Pasqualini e Rosiane Ponce

Aula 8 – Aprofundamento da Discussão Sobre a Implementação do Currículo
EXPOSITORES: Julia Malanchen e Ricardo Pereira

Aula 9 – Didática: Problemas Teóricos, Metodológicos e Práticos
EXPOSITORAS: Ana Carolina Galvão Marsiglia e Lígia Márcia Martins

Aula 10 –Contribuições da Pedagogia Histórico-Crítica ao Ensino Infantil
EXPOSITORAS: Alessandra Arce e Lucinéia Lazaretti

Aula 11 – Contribuições da Pedagogia Histórico-Crítica ao Ensino Fundamental
EXPOSITORES: Jeferson Gonzalez, Larissa Quacchio e Lucas Teixeira

Aula 12 –Contribuições da Pedagogia Histórico-Crítica ao Ensino Médio
EXPOSITORES: Ricardo Eleutério dos Anjos e Tiago Nicola Lavoura

Aula 13 – Educação Especial na Perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica
EXPOSITORES: Marilda Gonçalves Dias Facci, Silvana Tuleski, Sônia Maria Shima Barroco e Régis Henrique dos Reis Silva

Aula 14 – Formação de Professores na Perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica
EXPOSITORES: José Claudinei Lombardi, Luciana Coutinho e Newton Duarte

Aula 15 – Conclusão: Possibilidades e Perspectivas
EXPOSITORES: Dermeval Saviani e José Claudinei Lombardi

A Pedagogia Histórico-Crítica, de Dermeval Saviani, é um marco nas teorias educacionais brasileiras. Preza pelo acesso dos estudantes aos conhecimentos científicos e culturais de modo não-conteudista, por meio da socialização do conhecimento historicamente construído pela humanidade, que permita a compreensão crítica do mundo, da sociedade, para poder transformá-los.

O futuro ali na esquina

A Netflix sempre surpreende em seus comerciais na internet.

Dessa vez, a empresa apresenta o NetflixVista, um dispositivo “implantado” próximo ao ouvido e com uma lente de contato que permite ao usuário assistir a programação da Netflix sem precisar de nenhum dispositivo externo ao corpo. Uma solução fantástica para assistir a sua série favorita no ônibus, no meio de uma reunião chata e em outras situações cotidianas, sem chamar a atenção.

O vídeo, perturbador, lembra o conceito de pós-humano, em que as tecnologias se tornam efetivamente órgãos dos sentidos, e não apenas extensões do corpo. Em menos de três dias, o vídeo foi visualizado mais de 5 milhões de vezes no Facebook.

Pra sorte dos que se sentiram angustiados com o vídeo, uma boa surpresa: o NetflixVista ainda não existe. O vídeo é uma campanha da empresa, justamente para chamar a atenção de que, lá fora das telas, existe um mundo que também merece ser assistido, com suas histórias fantásticas e reais. E, ao final, o vídeo anuncia os episódios da serie Black Mirror, série original do Netflix que traz para o entretenimento os (des)caminhos de uma sociedade midiática e altamente tecnologizada.

Em outras palavras, o Netflix Vista ainda é uma ficção e o seu vídeo uma peça publicitária que em certa medida realiza uma autocrítica ao seu nicho de mercado, ao mesmo tempo em que promove um de seus produtos que também exerce essa crítica. Contudo, acessórios como o Netflix Vista e enredos como os do Black Mirror estão logo ali na esquina, em um futuro não muito distante, que pode “acontecer” a qualquer momento.

 

Imagem e memória: o racismo contado em 20 fotografias

Para celebrar o Dia da Consciência Negra, o site Imagens & História publicou uma série de imagens históricas que ajudam a contar a história do racismo. Selecionamos 20 imagens com suas histórias, listadas a seguir*.

A memória coletiva não pode ser apagada, nem seus fatos esquecidos, ao menos tão facilmente ou sem apagar, junto, uma parte da própria sociedade. Mas, olhando pelo retrovisor da História, mesmo em civilizações que foram aniquiladas por seus conquistadores, os resquícios e traços da cultura atravessaram os séculos, e ainda hoje servem como vestígios de acontecimentos que colocam em xeque a história oficial contada, na maioria das vezes, pelo ponto de vista dos vencedores.

A memória é tão importante quanto a história e a sua função social mais elementar: conhecer e desmistificar o passado para compreender o presente e não repetir os mesmos erros para o futuro. Na Alemanha, por exemplo, diversos monumentos espalhados pelas cidades lembram os dramas do holocausto judeu, para que as futuras gerações alemãs possam lembrar dos perigos do nazismo mais especificamente, mas também a irracionalidade da segregação racial e do ódio e da violência gerada por ela e, nesse caso em particular, os erros históricos originados na crença de uma suposta superioridade da raça ariana em relação às demais. A mesma lógica vale para as relações étnico-raciais entre brancos e negros em sociedades ocidentais, como Brasil e Estados Unidos — países democráticos e supostamente não-racistas, mas cujas práticas sociais apontam para o sentido oposto. Algumas imagens, ainda que incômodas, servem para lembrar que estamos a um passo do passado, e que é muito fácil — e perigoso — titubear ao dar o próximo em direção ao futuro e, em vez disso, dar um passo atrás.

A memória imagética é importante para recontar a história do racismo e contribuir para a reflexão sobre o tema em um momento histórico em que a internet e as redes sociais concederam uma certa liberdade para que práticas racistas recobrassem fôlego. As imagens listadas a seguir* e suas respectivas histórias foram publicadas em diferentes períodos na página Imagens & História, no Facebook, e republicada hoje por ocasião do Dia da Consciência Negra.

1. Menina negra é acompanhada à escola por policiais federais nos EUA

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Em 14 de novembro de 1960, Ruby Bridges, uma menina de seis anos de idade, foi levada à escola em Nova Orleans, EUA, por uma escolta de policiais federais.
A menininha foi pesadamente insultada e ameaçada de morte por uma multidão enfurecida. Assistiu às aulas sozinha: as demais crianças foram mantidas em casa pelos pais.
Ruby Bridges era negra – esse era seu crime.
Ruby foi a primeira criança negra a ir para a escola, com o fim da política de segregação racial nos EUA, em Nova Orleans, em 1960.
Seu primeiro dia de aula foi marcado por xingamentos, medo, racismo. A escola, pasmem, estava vazia, pois os pais não deixaram seus filhos frequentarem o ano escolar com a presença de Ruby. Também não havia professores, apenas um educador quis dar aula para Ruby. Seus pais foram severamente ameaçados. E, durante meses, ela teve que ir e voltar da escola acompanhada por 4 policiais.
E mesmo quando objetos e xingamentos eram jogados contra seu corpo, com 6 anos de idade, Ruby não desistiu, não chorou, sequer fraquejou. Era uma pequena soldada – palavras de Charles Burks, um dos quatro policiais que a escoltavam.
No ano seguinte, Ruby não estava mais sozinha na escola. Inspirados por sua coragem e pela de sua família outras crianças negras foram matriculadas.

2. Homem branco joga ácido em piscina com negros

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EUA, 1964. James Brock (o gerente de hotel Monson Motor Lodge) derrama ácido na piscina enquanto pessoas negras nadam.
Ele jogou ácido muriático (clorídrico), utilizado para retirar manchas, na piscina reservada unicamente para brancos após um grupo de manifestantes negros pularem nela.
Também na piscina estava o policial Henry Billitz para retirar as pessoas da água. Após o incidente, o nome de James e a foto rodaram o mundo, chocando muitas pessoas.

3. Imagem emblemática dos Jogos Olímpicos: o punho cerrado dos vencedores

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Em 1968 Martin Luther King foi assassinado. Malcom X também. Muhammad Ali perdeu o título de campeão mundial dos pesos pesados por se recusar a lutar no Vietnã.
Os velocistas americanos Tommie Smith e John Carlos, após ficarem em primeiro e terceiro lugar na prova de atletismo de 200m rasos nos Jogos Olímpicos do México, fizeram a saudação ‘Black Power’ no pódio. Com o hino dos Estados Unidos a soar, Smith e Carlos levantaram o braço em que tinham uma luva preta, fecharam os olhos e inclinaram a cabeça para baixo. Sem tênis e apenas de meias pretas, os atletas pretenderam simbolizar a “pobreza negra na racista sociedade norte-americana”.
O comitê olímpico internacional reclamou, a delegação americana os expulsou do time e o México retirou o visto dos dois, que voltaram pra casa mas nunca se arrependeram do que disseram ao mundo.
A história dessa imagem poderia terminar aqui. Mas ela é muito mais rica. Nos jogos Olímpicos desse ano, repercutiu na internet a história do outro atleta do pódio, Peter Norman, e sua decisiva participação em uma das imagens mais poderosas do século XX. O texto, do jornalista italiano Riccardo Gazzaniga, você pode conferir aqui.

 

4. O punho cerrado, símbolo do ativismo negro, desafiando o ódio neonazista

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Maria-Teresa Tess Asplund, ativista negra, desafiando sozinha com o punho em riste um grupo de 300 neonazistas, durante uma manifestação em uma cidade no interior da Suécia, em 2016.

5. O primeiro dia de aula de uma negra em uma escola pública (de brancos)

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Dorothy Counts foi a primeira estudante negra admitida numa escola pública americana (de brancos). A fotografia retrata seu primeiro dia de aula na Universidade de Harry Harding, na Carolina do Norte (EUA), em 1957.
O vestido de Dorothy foi feito por sua avó especialmente para seu primeiro dia de aula. Cuspiram nele.
Centenas de alunos seguiram e acompanharam sua chegada à escola. De vez em quando alguns jogavam coisas em sua direção enquanto outros faziam gestos obscenos. Os estudantes gritam para ela voltar para casa. Dorothy foi em frente sem reagir.
Este absurdo momento de violência prosseguiu nos dias seguintes. Foram 4 dias de perseguições e insultos. Jogavam lixo durante a sua refeição e seu armário era saqueado. Depois surgiram ameaças telefônicas agravando ainda mais a situação. Por fim, os seus pais consideraram que a sua vida poderia estar em risco e optaram por tirá-la da escola.
Pode parecer pouco mas os quatro dias em que Dorothy tentou frequentar a Harry Harding High School foi de grande importância para o Movimento dos Direitos Civis e fim da segregação racial nos Estados Unidos.
O preconceito torna o cérebro ignorante e as pessoas cegas.

 

6. O pioneiro da cirurgia cardíaca, quase escondido da história

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Vivien Thomas, pioneiro da cirurgia cardíaca, em 1940.
Vivien foi um técnico cirúrgico americano que auxiliou no desenvolvimento de procedimentos importantes. Com um limitado grau de educação formal e sem nunca ter cursado uma faculdade, Thomas lutou contra a pobreza e o racismo para se tornar um pioneiro na área da cirurgia cardíaca e um professor para estudantes que se tornariam os melhores cirurgiões dos Estados Unidos. Em meio a uma época extremamente racista nos EUA, Vivien Thomas recebeu o título de Doutorado Honorário.
No cinema, essa história foi contada pelo filme Quase Deuses, que retrata não apenas a engenhosidade de uma cirurgia considerada impossível nos anos 1940, mas também as pressões sociais pelo fato de Thomas ser negro.

7. Zoológico humano

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Foto de um zoológico humano, tirada em 1958 na Bélgica.
Há menos de 60 anos, existiam zoológicos como este, onde negros, geralmente africanos, eram expostos para as pessoas brancas européias.

8. Médicos negros socorrendo membro da KKK

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Durante um ataque da Ku Klux Klan a uma família negra na Geórgia, a família teve a sua casa incendiada. Neste ataque um engenheiro membro da K K K, foi agredido a golpes de foice por um morador de 14 anos, obviamente negro. O mesmo rapaz teve sua casa incendiada e sua avó de 89 anos assassinada a chutes.
O ataque ocorreu com uma foice, segundo o jovem, em defesa de sua família e ao ver sua avó no chão sendo brutalmente espancada, resolveu intervir.
O engenheiro ferido, de 38 anos foi levado as pressas para um hospital, onde estavam apenas um médico negro e enfermeiras também negras,que o socorreram imediatamente e conseguiram estancar a hemorragia e salvar o indivíduo, independente de quem ele era.

9. Choque de realidades – 1

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Criança vestida de membro da Ku Klux Klan, tocando o escudo de um policial negro, em passeata da KKK, em 1992.
Ku Klux Klan (também conhecida como KKK) são várias organizações racistas dos Estados Unidos que apoiam a supremacia branca. A KKK, em seu período mais forte, foi localizada principalmente na região sul dos EUA, em estados como Texas e Mississipi.

10. Desafiando a suposta superioridade racial branca

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Jesse Owens, o negro que derrotou Hitler em 1936, nas Olimpíadas do nazismo.
Ele participou nos Jogos Olímpicos de Verão em Berlim, Alemanha, onde se tornou conhecido mundialmente por ganhar quatro medalhas de ouro nos 100 e 200 m rasos, no salto em distância e no revezamento 4×100 m.
Porém, a maior conquista de Owens foi não se contrapor ao regime hitlerista, mas sim abalar a noção racista da nação americana no século XX, como ele mesmo deixou bem claro em sua biografia. Ele declarou que o que mais o magoou foi o presidente norte-americano Roosevelt não ter lhe mandado sequer um telegrama felicitando-o por suas conquistas na olimpíada.
Owens teria dito mais tarde: “Não foi Hitler que me ignorou, quem o fez foi Franklin Delano Roosevelt. O presidente nem sequer me mandou um telegrama.”

11. Choque de realidades – 2

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Foto icônica do Movimento dos Direitos Civis, em 1965.
Um menino negro tem a bandeira arrancada de suas mãos por um policial branco.
Na bandeira estava escrito um pedido pelo fim da brutalidade policial.

12. Quem quer perder privilégios? O uso de crianças na transmissão do racismo

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Menina segurando cartaz dizendo “Nós queremos que mantenham a nossa escola branca” em protesto contra a matrícula de Ruby Bridges, a primeira criança negra a estudar em uma escola de Nova Orleans, em 1960.

13. Consciência e resistência – 1 

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Escolas de treinamento para afro-americanos não caírem nas provocações racistas nos EUA, na década de 1960.
Como a política do movimento liderado por Martin Luther King era a de não-violência, foram criadas tais escolas para afro-americanos com o intuito de saberem resistir impassíveis às provocações daqueles que se opunham à integração dos negros na sociedade americana.

14. Consciência e resistência – 2 

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Uma mulher negra com o braço estendido e o punho cerrado é levada pela polícia durante um protesto pelos Direitos Civis dos negros, em 1965.

15. Tratados como animais

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Escrava brasileira serve de “cavalinho” para criança branca.
Esta fotografia, datada do final do século XIX, possui uma carga simbólica imensa, nos levando a refletir sobre o racismo cotidiano brasileiro e suas consequências nos séculos posteriores.

16. Racismo e visibilidade social

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Em uma das regiões mais ‘negras’ do país, Salvador, o lugar social de negros e brancos parece historica e socialmente muito bem demarcada, mesmo com as políticas de cotas, e em pleno século XXI.

17. Assédio racial 

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Assédio racial após manifestação pacífica de um jovem negro por direitos civis, em Virgínia, nos EUA, em 1960.

18. Troca de reinados

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Pelé e Djalma Santos recebem o cumprimento do Rei da Suécia, após a final da Copa do Mundo de futebol, de 1958.
Pouco antes da cópia, um estudo de psiquiatras alemães havia sugerido a inferioridade psíquica de atletas negros, o que ajudava a explicar a tendência à derrota de brasileiros em momentos decisivos. Segundo o estudo, embora atletas talentosos, jogadores negros eram menos racionais e mais nervosos e com isso tinham mais dificuldades em agir em situações importantes, não raro tentando compensar sua inferioridade mental (ainda não totalmente desenvolvida) com violência física.
A seleção brasileira de 1958 teve, entre seus principais jogadores, atletas negros; entre eles os gênios Garrincha e Pelé. Contrariando os estudos psicológicos, na final contra a Suécia, o time conseguiu reverter o placar desfavorável (saiu perdendo de 1 a 0) e venceu o jogo por 5 a 2, conquistando seu primeiro título mundial. Pelé, negro, então com 17 anos, viria a ser reconhecido como o “rei do futebol”.

19. Racista protegido pelo alvo de sua agressão

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Um policial negro protegendo um membro da organização racista Ku Klux Klan durante uma manifestação, no Texas, em 1983.

20. Segregação racial

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Foto rara de Elvis Presley esperando por seu bacon com ovos em um restaurante, enquanto uma mulher negra esperava de pé pelo seu sanduíche (Negros de qualquer sexo não podiam sentar nos mesmos lugares que os brancos).

Notas:
  1. A foto 18 não foi publicada na página Imagens & História, como as demais. A história foi reproduzida numa seção especial do jornal O Estado de São Paulo, em 1994.
  2. Os textos em vermelho foram organizados por esse blog.
  3. A segregação racial nos EUA é retratada no cinema em vários filmes de grande sucesso. Além do já citado “Quase Deuses”, “Tempo de matar” e “Mississipi em Chamas” contam histórias semelhantes de atuação de grupos racistas para intimidar negros, em ambos os casos causando violência e assassinatos. Outros filmes também retratam as relações étnico-raciais em diferentes épocas: “Amstad” conta a história do julgamento de um grupo de negros africanos escravizados ilegalmente e que fez um motim em um navio negreiro. “Invictus” conta a história da reunificação racial da África do Sul a partir dos primeiros dias de mandato do ex-guerrilheiro e líder político Nelson Mandela, bem como as tensões que se originaram nesse momento de transição social e política do país com o fim do regime de segregação racial do país – o apartheid.

Boatos na rede, educação e competência midiática

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A proliferação de boatos na rede é causa de atritos, de brigas em família e discussões sem fim que só ajudam a fortalecer as bolhas ideológicas, cujos muros são intransponíveis. O trabalho do educador midiático, nesse contexto, é como o trabalho de Sísifo, em que muitas pedras rolam do alto da montanha.

Por Rafael Cunha*

 


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Boato de 2014, criado com uma montagem a partir de uma imagem de um portal de notícias verdadeiro: tem gente que até hoje acredita

Nesta semana, o doleiro Alberto Youssef — uma das personalidades centrais da operação Lava Jato, em função da delação de outros envolvidos — trocou a carceragem pela prisão domiciliar. Dois anos atrás, ele havia sido morto, envenenado no fim de semana das eleições gerais, por suposto, antes que delatasse outros políticos poderosos. A notícia de agora é verdadeira e pode ser comprovada por qualquer agência de notícia. A de dois anos atrás, não, e era respaldada em uma montagem mais ou menos de baixa qualidade. A notícia de agora, verdadeira, quase não ganhou importância dos veículos de comunicação e possivelmente seja de desconhecimento de grande parte da opinião pública. A notícia de dois anos atrás, falsa, quase causou um furor nacional, embora tenha sido desmentida em poucas horas pelos médicos e pela família do suposto assassinado. Aliás, mesmo sendo desmentida, a crença no boato persistiu por mais um tempo em que o boato continuou circulando. Quiçá ainda hoje alguém mantenha o boato como notícia verdadeira. É aí que entra a complexidade para a atuação do educador midiático.

Tal como o destino de Sísifo, personagem da mitologia grega, astuto mortal que enganou a morte e que por isso foi condenado a passar a eternidade rolando uma pedra para o alto de uma montanha, até que ela rolasse de volta para a base, assim tem sido o trabalho exaustivo de quem trabalha com as mídias para o desenvolvimento de competências midiáticas. É possível que, no início da emergência da Web 2.0, não se vislumbrasse um trabalho tão complexo para a educação midiática do que o que se coloca nos dias atuais: a preocupação, há 10 anos ou pouco mais, ainda estava muito mais centrada no domínio técnico das ferramentas, para seu uso e produção de conteúdos e na analise crítica dos conteúdos midiáticos, na época, veiculado quase que exclusivamente pelos meios de comunicação de massa. Talvez, àquela altura, fosse demasiada preocupação o fato de que, como se coloca hoje, as próprias pessoas comuns estariam desenvolvendo conteúdos sem o mesmo cuidado (ou com as mesmas intenções perniciosos) necessário que, no fim das contas, servem muito mais à manipulação do que à informação; um desserviço à sociedade do que uma utilidade cultural. Há novos e complexos ingredientes quando se faz uma crítica à “mídia” nos dias atuais: nós, pessoas comuns, também somos “a mídia”.

A questão da competência midiática e da educação com, na e para as mídias é, sobretudo, um exercício de paciência. E um exercício sem fim, uma tarefa de Sísifo: por mais que se avance na discussão sobre a importância de verificar a fonte da informação antes de acreditar no que se vê nas redes sociais e, principalmente, antes de colocar novamente o conteúdo em circulação (o famoso “compartilhar”, que se tornou quase uma necessidade de sobrevivência), cotidianamente nos deparamos com uma infinidade de boatos, distorções, montagens grotescas ou qualquer outra coisa que, no limite, só tornam a rede um lugar mais estéril de se habitar por aqueles que, minimamente, se pretendem ser críticos.

Para o educador midiático, a desolação é ainda maior quando um ente próximo adere à onda do “primeiro publico, depois me importo com a veracidade do conteúdos”. Então, o estrago já está feito. Trata-se de uma imprudência sobre a fata de mensuração das consequências inconsequentes de um ato aparentemente ingênuo — compartilhar. Mas também se trata de um resultado nefasto do analfabetismo midiático que, parece, generalizado (por mais contundente que isso possa soar): ela não afeta apenas os indivíduos com baixa escolaridade ou instrução, mas é própria do universo de pessoas estudadas, de jornalistas a advogados — o exemplo emblemático mais recente é o boato disseminado pela advogada e professora da USP, Janaina Paschoal, de que a Rússia estaria se preparando para invadir o Brasil; nesse caso, nem uma pessoa supostamente intelectualizada, com formação em doutorado, está imune à histeria coletiva ou isenta de praticar a boataria, que pouco tem a ver com racionalidade. O observador crítico vai perceber que o mesmo boato (por exemplo, a invasão do Brasil) é utilizado por grupos antagônicos para diferentes fins: se acontecesse “Y”, a Rússia invadiria o país; ou em caso de ameaça de “Y” acontecer, a Rússia invadiria o país para defender “Z”. Em qualquer um dos casos, portanto, a Rússia teria invadido o Brasil. Mas até agora, é mais plausível que brasileiros invadam a Rússia, não para uma guerra, mas para assistir à próxima Copa do Mundo de futebol masculino.

Esse é apenas um ínfimo exemplo de boato corriqueiro nas redes sociais, para desespero dos educadores midiáticos. Costuma-se consagrar o Facebook e o WhatsApp como portadores da disseminação de boatos, por serem redes sociais popularmente utilizadas. Mas o YouTube é um oásis de pérolas da boataria; algumas até bem convincentes, que podem confundir o indivíduo, mas que extrapola os limites do concreto, do racional quando se tem o mínimo de competência midiática para vislumbrar os contornos do plausível, do concreto e do fictício. Uma pesquisa corriqueira da expressão “invasão do Brasil” no YouTube basta como exemplo do assustador número de boatos e seu alcance na internet. Parece que esse é um território livre para cada um criar a fantasia que quiser, compartilhá-la como dado da realidade e, então… as consequências são improváveis, dependendo do alcance do vídeo: desde usuários da rede se digladiando em torno do tema, até as práticas que lembram aquela brincadeira “quem conta um conto aumenta um ponto” para endossar o conteúdo. Espalhe-se um boato, em determinado grupo, que há uma conspiração para algum país vizinho invadir o Brasil e logo aparecerá nos comentários alguém jurando que viu tropas estrangeiras se mobilizando na fronteira, portanto, uma testemunha ocular que comprova que o boato é verdadeiro. Mas o mais importante (e perigoso): esse não é um fenômeno nada novo. A boataria já era um obstáculo à democracia, pelo mal-estar da opinião pública, há 2.500 anos em Roma. Voltaremos a esta questão depois. Antes, precisamos falar das competências midiáticas para o tempo presente.

Há um hiato que chega a ser paradoxal: qual o limite entre a crítica sobre um determinado produto midiático e o efeito que ele exerce sobre mim e que influencia as minhas práticas?

Píer Rivoltella, um dos pesquisadores de mídia-educação de influência no país, há mais de uma década alertava sobre a questão da necessidade de desenvolver competências midiáticas e fazia uma alusão à relação dos professores com a televisão. Para ele, todo mundo, genericamente falando, faz críticas aos conteúdos (e suas formas) da TV, mas paradoxalmente todo mundo assiste a esses conteúdos com certa regularidade. Parece claro que entre a crítica, racionalizada, em um momento de distanciamento, e o consumo cultural que se realiza em um momento de distração, entretenimento, ou seja, em um momento em que não estamos com “olho vivo, faro fino e pé atrás” — aludindo àquela canção de Humberto Gessinger — há um hiato que chega a ser paradoxal: qual o limite entre a crítica sobre um determinado produto midiático e o efeito que ele exerce sobre mim e que influencia as minhas práticas? É esse hiato, esse espaço de mediação, que parece cada vez mais nebuloso. É nesse espaço que reside a importância de atuação do educador midiático. É aí onde se realizar o trabalho de Sísifo: interminável e com poucos progressos.

Acrescenta-se a essa questão outros problemas sociais enraizados em nossa cultura: a falta de uma verdadeira inclusão digital, coexistente com acesso amplo da população aos recursos digitais e multimidiáticos; o analfabetismo funcional; a presença quase cristalizada (um habitus, nas perspectiva bourdieusiana) de uma cultura de dominação simbólica ou não. E o principal desafio da educação digital: o fato de grandes parcelas dessa massa de indivíduos estarem inseridas, compulsoriamente, em uma cultura que emerge tendo por base a co-produção de conteúdos digitais, mas sem as oportunidades educacionais e culturais prévias que lhes permitam não apenas o acesso, mas a alfabetização midiática — aqui entendendo alfabetização no sentido freireano de alfabetização de mundo.

Ainda faltam, ao que parece, pesquisas acadêmicas que mostrem as motivações desse tipo de comportamento de compartilhar qualquer coisa à qualquer custo, desde que a pessoa se identifique com a “causa”. As motivações das fontes geradoras podem até ser mais facilmente identificáveis: insuflar a opinião pública contra um determinado grupo de pessoas (ou conta um indivíduo em particular) que representam ou expressam um determinado conjunto de pensamentos. É possível e provável que um boato gere outros boatos e ajude a cristalizar certos discursos contra esses grupos. Seria necessário, portanto, uma genealogia desses boatos em rede. Aqueles que são contra grupos políticos ou ideologias que elas carregam podem ser mais facilmente possíveis de identificar e uma hipótese plausível dessa genealogia é a de que a origem dos boatos não tenha sido contra um indivíduo, personificadamente, mas o conjunto de valores, crenças e ideias que ele representa. A história ensina que as ideias sobrevivem aos indivíduos, mas isso nunca foi motivo para que se parasse de agredir e assassinar indivíduos que portam certas ideias. O alvo político da boataria na internet caminharia nesse sentido: na impossibilidade de atacar ideias, atacam-se pessoas, na possibilidade de atacar ideias, faça. Talvez o exemplo mais assustador seja o constante ataque aos “direitos humanos”, como se fossem uma pessoa ou algum tipo de organização social, e não aquilo o que são: um conjunto de direitos de todas as pessoas. Os boatos que têm como alvo os “direitos humanos” é o tipo de ataque irracional a si próprio. No entanto, os boatos que não têm aparentemente uma carga ideológica ou política e que, aparentemente, só servem para instaurar algum tipo de caos, esses ainda precisam ser explicados por alguma ciência, que talvez nem sejam as da comunicação.

As calúnias e boatos já eram um problema social e político em Roma, nos tempos da república. O que mudou de 2.500 anos para cá é apenas a arena em que esses boatos se estabelecem. A praça pública não saiu de cena, mas a internet a sobrepujou.

Por sua vez, nem se pode dizer que esse é um fenômeno típico da cultura digital: as calúnias e os boatos já eram um problema social (e político) desde a época de Roma, como nos lembra Maquiavel. Um problema tão grande que levou a alterações nas leis e na própria estrutura política da república romana. O que mudou em 2.500 anos, portanto, é apenas a arena em que os boatos se disseminam. Mas essa mudança de arena possui um agravante: se antes, nas sociedades estruturalmente menores, era menos dificultoso identificar as fontes geradoras de um boato e elas estavam mais próximas de pessoas que detinham ou não algum tipo de autoridade, o rastreamento, o julgamento e, conforme o caso, a punição, eram mais facilmente colocados em ação. Foi assim que surgiram as leis do direito de acusação pública em Roma. Já na arena das redes sociais, apesar de não estarem imunes ao arcabouço jurídico e legal que pode ser acionado em muitos casos, as consequências são ainda mais perniciosas do que aquelas a que Maquiavel se referia: a arena é mais ampla e mais fluida; ela se estende do espaço on-line para o off-line e faz o caminho de volta, num movimento espiral e quase incontrolável. A penetração do boato é mais imediata e seus efeitos mais duradouros: os links, os memes, as referências se proliferam e persistem na rede mesmo após a morte do boato (por esquecimento ou por desmentimento).

Mas o boato também deixa uma “herança”: aqueles que não estiveram no centro do alcance do boato podem ter acesso tardiamente aos seus fragmentos, meses, quem sabe anos depois. E se esse indivíduo não tiver a competência midiática, pode reiniciar o ciclo do boato, espalhando-o para outras bolhas (ou os nós das redes sociais) que originalmente também não haviam tido acesso a ele. E dependendo do fragmento encontrado, do nível de acesso ao boato original e, claro, de senso crítico, pode haver um novo boato, remixado, distorcido, haja vista que a remixagem está na base da co-produção de conteúdos típica da cultura digital. Diferentemente da praça pública romana, as arenas das redes sociais têm uma certa memória, com suas vantagens e desvantagens, que pode tornar o ciclo de um boato interminável, cujas repercussões, para as vítimas, podem ser permanentes: não é à toa que o cyberbullying tem efeitos muito mais catastróficos do que o bullying tradicional e que já tem em sua conta uma variedade de casos de suicídio. Se em um contexto ‘analógico’, um nudes [1] tinha um alcance mais ou menos limitado no tempo e no espaço e dificilmente era reproduzível, o mesmo fenômeno na cultura digital ganha proporções indeletáveis, dado o grau de alcance (imediato) no espaço, o grau de replicação e reprodução do conteúdo e suas remixagens [2].

Há, ainda, um outro elemento do boato em rede que torna mais difícil o seu desmantelamento e que repousa na questão da ubiquidade. A mobilidade, mais precisamente, o uso de dispositivos móveis, colocou novos elementos no rito da conexão e no alcance dos conteúdos digitais. Os grupos de WhatsApp nos quais circulam áudios cuja autoria se perdeu, de compartilhamento em compartilhamento, são o exemplo mais banal desse movimento. A ubiquidade atua nesse sair do on-line, penetrar no off-line e entrar de novo em rede sem um rito de conexão, um atuar simultâneo em diferentes espaços, uma espécie de onipresença que serve como portador do transbordamento de conteúdos de uma para outra ambiência. No caso do boato, esse movimento pode ser catastrófico, visto que esse “sair” da rede apaga os seus rastros, mas continua circulando na rede social off-line. Comparado com a praça pública romana, a rede social digital é muito mais poderosa nesse sentido, operada pela mobilidade, pelo duplo movimento da ubiquidade e por um espaço multimensional cujo alcance do conteúdo só pode ser estimado estatisticamente, com amplas e desconhecidas repercussões qualitativas para a psique humana, individual ou coletiva.

Ainda, existe a questão da autoridade. Um boato bem formulado em termos de forma (como o ilustrado na imagem sobre a suposta morte do até agora vivíssimo Alberto Youssef), com aparência de notícia verdadeira, pode enganar à primeira vista até aos não-adeptos de boatos. No caso dos áudios de WhatsApp, basta o locutor ter uma entonação convincente e dizer que é o Major Peçanha, comandante da divisão do exército da fronteira, que o ouvinte menos desprovido de senso crítico pode realmente achar que o exército russo escondido na floresta amazônica está prestes a invadir o Brasil e que, enquanto cidadão brasileiro, é seu dever passar aquela mensagem adiante (nunca fica muito claro qual a finalidade de passar a mensagem adiante, mas esse é outro tema que merece uma análise à parte). Em ambos os tipos de casos, está posta uma autoridade no boato, mesmo que a autoridade não seja comprovada como existente, ou seja, mesmo que não exista autoridade para respaldar o conteúdo. Mas mesmo que existisse, de fato, uma pessoa ou organização “real” com autoridade sobre o assunto, em tempos de internet há uma crise ou inversão de autoridades talvez sem precedente. E aqui não estamos nos referindo a autoritarismo. Estamos falando de quebra de credibilidade ou mesmo de inversão de autoridade, não em função da propriedade sobre um determinado assunto, mas de com qual tipo de ideologia essa ‘autoridade’ se identifica em relação ao tema do boato. Isso explica porque, em certa medida, os médicos ou a família do doleiro Alberto Youssef não tiveram “autoridade” suficiente para desmentir o boato de sua morte, ao menos num primeiro momento ou entre alguns grupos.

É possível dizer que nunca houve tantas possibilidades técnicas de se manter bem informado em conflito com as dificuldades concretas disso. Estão em xeque as teses da sociedade da informação que defendem que um acesso maior às informações conduziria a sociedades com indivíduos mais bem informados. As dificuldades concretas residem na baixa alfabetização midiática da população.

Esse jogo de forças é interessante sob muitos aspectos, pois estamos diante de um fenômeno novo no qual, ao final das contas, existem pessoas comuns que passam não apenas a acreditar em um boato, mas a defender a legitimidade do boato com uma certa autoridade sobre ele; mesmo que não tenham as condições materiais ou concretas para comprovar a origem da fonte ou a veracidade da informação. Este é um tema que as ciências humanas e sociais ainda precisam investigar melhor. A novidade consiste justamente no fato de que, com as redes, as possibilidades de uma consulta sobre a veracidade da informação foram ampliadas, antes de se cair nas armadilhas da rede de boatos. O paradoxo é que, se antes o controle das informações ficava circunscrito a um grupo privilegiado de pessoas (o que tornava mais fácil a manipulação das massas indivíduos), com a democratização do acesso às informações, esse não seria, em tese, um obstáculo ao cidadão bem informado. Dominique Wolton, em seu Internet, e depois?, centra suas análises justamente nesse sentido, na contracorrente das teses que defendem que mais acesso a informações resultaria, inexoravelmente, em uma sociedade com indivíduos mais bem informados, o que a cada dia tem se mostrado falso. O paradoxo do tempo presente, nesse caso, lembra o que Boaventura de Sousa Santos fala sobre o desenvolvimento do mundo: nunca houve tantas possibilidades técnicas, mas em choque com as impossibilidades políticas.

cultura

Nem o novo ministro da cultura fica imune aos efeitos dos boatos ou, nesse caso, à falta de consequências midiáticas. Em 2012, o site de humor G17 “informou” que, a pedido da ex-presidente Dilma Rousseff, as notas de R$ 1,00 teriam a frase “Deus seja louvado” (que, por sinal, é uma ironia num Estado laico) fosse substituída por “Lula seja louvado”. A reação do atual ministro da cultura no Twitter foi imediata e beirou o ridículo, haja vista que a própria “notícia” do site de humor dava o tom anedótico do assunto: “‘Nem Deus, nem Zeus, nem Goku nem Galileu, coloquem o nome do Lula’, teria dito a Presidente Dilma para encerrar a confusão”, dizia a sátira. O exemplo é emblemático, hoje, pelo anúncio de Freire como o homem a comandar a cultura no país. Mas existem outros igualmente anedóticos. Nesses casos, até as matérias do notório site Sensacionalista, às vezes, são confundidas com notícias reais, o que mostra o quanto o campo de atuação do midiaeducador é vasto, amplo e com as mais variadas dificuldades a serem contornadas.

 

Não é exagerada a hipótese de que a criação e disseminação de boatos é um novo nicho de mercado, que encontrou terreno fértil nas redes sociais. Muitos grupos e páginas especializadas em, simplesmente, fazer fofoca, podem ser facilmente encontrados na internet. São nichos de mercado à medida em que aparecem como “links patrocinados”, o que imediatamente coloca a questão: quem patrocina um boato (muitas vezes grotesco) e com qual finalidade? E aqui não estamos nem nos referindo somente a páginas supostamente jornalísticas que distorcem ou editam acontecimentos, nem a grupos de militância ideológica que mostram apenas a sua versão da história; mas a agentes (indivíduos, grupos, organizações) que se especializaram em plantar notícias falsas, com pouca aderência aos acontecimentos concretos. Trata-se, em certa medida, de um tipo de arremedo mais elementar e bizarro dos tabloides, os quais muitos veículos de comunicação se tornaram [3].

Por fim, a cultura do compartilhamento em si mesmo que está se estabelecendo nas redes sociais possui outro aspecto danoso, quando se refere a notícias falsas e/ou boatos: nem todo conteúdo pernicioso pode ser enquadrado como crime, embora as consequências dos seus danos sejam duradouros. Não no dano entendido pelos juristas, mas no dano à inteligência, à intelectualidade, à própria cultura. Há algumas opiniões de que a internet abriu as porteiras da ignorância (Umberto Eco quase foi novamente morto quando sua entrevista nesse sentido ganhou visibilidade no Brasil). Com a diluição da autoridade, é comum ler comentários de cidadãos medianos dizendo que o entrevistado fulano não sabe de nada, mesmo que esse fulano entrevistado tenha um pós-doutorado e faça pesquisas naquela área há 20 anos. Ou ainda, é corriqueiro cidadãos comuns, entre eles adolescentes, chamando essas personalidades para o debate nos comentários de alguma notícia, querendo, talvez, provar sua autoridade numa suposta vitória em um fórum de internet — algo que lembra os duelos de vida ou morte em tempos passados, que achávamos menos civilizados [4].

Essas questões, colocadas acima, são ainda campo fértil para investigação acadêmica, mas também, como exposto no início do texto, um desafio permanente e cansativo ao educador midiático, dada a repetição e as tentativas fracassadas de constituir uma rede mais politizada. Um autêntico trabalho de Sísifo. Mas, diferente da mitologia, mais de uma pedra está rolando montanha abaixo. E com elas, talvez, toda a prospecção utopista feita em torno de uma sociedade cibernética e da emergência, em torno e por causa dela, de multidões inteligentes.


Notas
  1. Observa-se que o termo “nudes”, corriqueiro na atualidade, nem mesmo existia tal como conhecemos em períodos mais analógicos, ou seja, pré-internet.
  2. São notórias as disputas judiciais de celebridades para remoção de seus conteúdos íntimos da rede. Uma tarefa quase impossível, pois uma vez postada, não há mecanismos que impeçam alguém de ter feito o download para circulação extra-rede ou em ambiências de difícil rastreamento, como a deep web. Por sua vez, não são notórios os casos de pessoas comuns que estão na mesma situação e que, portanto, ganham menos visibilidade que as celebridades. Em ambos os casos, acrescenta-se um agravante, propriamente das remixagens. Em muitos casos, como nos de fotos íntimas ‘vazadas’ para a internet, páginas e usuários aumentam o alcance por meio de montagens de outras fotos. Alguém que tenha uma foto íntima vazada, por exemplo, pode ver esse número ampliado para tantas quantas forem possíveis, desde que se encontrem modelos fisicamente parecidas. Obviamente esse fenômeno é quase tão antigo quanto à própria fotografia. O famoso caso das fotos da Princesa Diana, pouco antes do casamento com o Príncipe Charles, pode ser considerado um exemplo clássico. A questão é que com o alcance da rede, esse fenômeno saiu do controle.
  3. Os resultados de uma prática de alfabetização midiática pode ser encontrado no trabalho de grupos como o Caneta Desmanipuladora. A partir do entendimento de que a forma como são noticiados os acontecimentos partem de vieses políticos e ideológicos do jornalista ou do grupo de comunicação para o qual trabalha, a prática do Caneta Desmanipuladora consiste em reescrever manchetes de jornais e revistas, dando transparência à informação, e despindo as sutilezas várias vezes utilizadas pelos jornalistas. Mas, para além dessas manchetes, de veículos de comunicação que se pretendem isentos, outros veículos de comunicação tradicional não têm a mesma parcimônia em demonstrar que, de fato, deixaram de fazer jornalismo para fazer fofoca. No Brasil, o caso mais emblemático é a decadência evidente da Revista Veja, uma das mais importantes publicações sobre política e economia, mas que assumiu seu descompromisso com o conceito de jornalismo, chegando a publicar matérias completas com base em boatos e praticando o “quem conta um conto aumenta um ponto”, ou seja, ampliando os boatos a partir de um boato inicial.
  4. Uma evidência desse comportamento perigoso entre os jovens tem sido cada vez mais corriqueira na internet. Tem sido comum encontrar comentários de jovens e adolescentes que “chamam par o debate” seus supostos oponentes. Emblemático é o caso de um adolescente que não concorda com a colocação, em um vídeo no YouTube, do professor Leandro Karnal, sobre o esvaziamento da democracia na ditadura militar brasileiro: “Esse professor não aguenta meia hora de debate comigo”. Está posta uma inversão de autoridade concedida pelas redes, como se informar-se nas redes sociais seja suficiente para desconstruir a própria história. Mas também merecem atenção os comportamentos de “líderes mirins” de algumas páginas cujo financiamento é desconhecido, que não se contentam em contra-argumentar às ideias com as quais não concordam: tentam desqualificar o portador do discurso. Nesse caso, também tem sido comum o “chamar para o debate”, algo que, em função do tom do discurso, em algumas ocasiões pode ser traduzido como: venha para o duelo que eu acabo com você. As ideias se perderam; o que importa é derrotar o oponente. Sua morte, mesmo que simbólica, é um desejo tão bárbaro quanto os daquelas sociedades em que os líderes eram construídos em um duelo de pistolas ou de espadas, uma espécie de “faroeste caboclo high-tech“.
 *Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisador na área de educação, cultura digital, trabalho e tecnologias.

Livro para download: Cultura e artes do pós-humano

Baixe grátis o livro Cultura e artes do pós-humano: Da cultura das mídias à cibercultura, de Lúcia Santaella

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Uma mudança cultural significativa com e pelas mídias. Esse pode ser considerado o ponto de partida da análise que a pesquisadora brasileira Maria Lúcia Santaella Braga — uma das principais divulgadoras da cultura digital do tempo presente — faz nessa obra, lançada originalmente em 2003. A obra, por sua vez, é uma ampliação significativa (e um aprofundamento significativo de ideias) do livro “Cultura das Mídias”, de 1992. O exemplar reproduzido aqui é a 4ª edição da obra, de 2010. Uma das características das obras de Santaella, a propósito, é retomar em seus livros ideias lançadas em seus livros anteriores. Outra característica é que, mesmo com o passar do tempo, suas ideias permanecem atuais e, em alguns casos, até mesmo futuristas ou prospectivas. O conceito de pós-humano se encaixa nesse perfil.

A perspectiva do pós-humanismo foi elaborada na década de 1970 por Ihab Hassan, norte-americano de ascendência egípcia, para designar uma espécie de ódio do ser humano por si mesmo. Esquecido por algum termo, o neologismo voltou à tona nos escritos de intelectuais que estudam a arte, a cultura e a filosofia a partir da década de 1990, no bojo da emergência da cibernética e da hibridização entre humano e máquina. Embora esse fosse um tema recorrente das obras de ficção científica dos anos 80 (em que “Blade Runner” tornou-se clássico, mas em que talvez Robocop tenha sido a expressão mais popular, visto que não se passava em um futuro distante, mas numa Detroit decadente da época), tal hibridismo, longe de apenas mexer com a imaginação ficcional, está encrustada na própria cultura emergente via redes digitais. É nesta perspectiva que Santaella categoriza a passagem de uma cultura a outra: a cultura oral, a escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias até a cultura digital. A emergência de uma forma de cultura não exclui a outra, mas, ao contrário, a incorpora, de modo que todas coexistem no tempo presente.

Embora Santaella reconheça que os meios de comunicação são meros canais de informação, a passagem de uma cultura a outra está pautada nessas tecnologias como portadoras ou como veículos que carregam os elementos dessas distintas formas de cultura: segundo a autora, os tipos de signos que por elas circulam, os tipos de mensagens que engendram e os
tipos de comunicação que são capazes não só de moldar o pensamento dos seres humanos, mas também de propiciar o surgimento de novos ambientes socioculturais. A convergência das mídias, podemos pensar, seria uma espécie de convergência cultural, sobretudo com a emergência das tecnologias digitais de informação e comunicação, na qual o computador é visto como a mídia das mídias. Decorre da centralidade dessa tecnologia a característica essencial que Santaella distingue como a passagem da cultura de massa (até então predominante) para a cibercultura.

Na perspectiva de Santaella, seu propósito com esse livro é contribuir com sugestões de respostas às questões que estão no centro da atenção daqueles que têm sido movidos pelo desejo da pesquisa sobre os temas do ciberespaço, cibercultura e ciberarte: o que está acontecendo à interface ser humano-máquina e o que isso está significando para as comunicações e a cultura do início do século XXI. Com essa obra, Santaella convida o leitor a repensar o humano no alvorecer do vir-a-ser tecnológico do mundo contemporâneo, a partir da história das novas tecnologias, da filosofia, da psicanálise, da comunicação e semiótica e, principalmente, da arte. Santaella reconhece que o título do livro (referindo-se ao pós-humano) é perturbador, pois pode sugerir que o humano já se foi, perdeu-se no golpe dos acontecimentos. “Insisto em mantê-lo, apesar desses perigos interpretativos, porque pretendo chamar a atenção pra a necessidade de se repensar o humano até o limite de sua essência molecular”, afirma a autora.

¯\_(ツ)_/¯ Abertura de ‘Rei do Gado’ combina com qualquer música. E é hilária

Página do Facebook recria a abertura da novela com músicas de vários gêneros. E quebra a internet brasileira

Toda vez que alguma coisa hilária acontece na internet, chove comentários do tipo “a criatividade do brasileiro não tem fim”, ou apenas “obrigado, internet”. Esses são comentários bastante apropriados para a página Todo dia o rei do gado girando com uma música diferente. Criada há menos de duas semanas, a página se tornou o novo hit da internet brasileira e ganhou notoriedade nesta semana, com matérias postadas pelo Catraca Livre, BuzzFeed, além de jornais e outros blogs. E não é para menos: em poucos dias a página já acumula quase 90 mil seguidores e os vídeos têm centenas de milhares de visualização. E tem de tudo: desde “o rei do gado” girando ao som do roda pião do Baú da Felicidade do Sílvio Santos, até o tema de abertura da série Arquivo X.

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Antônio Fagundes de ouro, na abertura da novela O Rei do Gado

Confira alguns vídeos da página e tente manter a seriedade

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Roda pião do Baú da Felicidade

Tema de A Grande Família (Dudu Nobre)

Música de abertura da série American Horror Story

The Sound Of Silence (Simon & Garfunkel)

Tema da série Arquivo X:

Um pouco de história

Na própria página, seus criadores João Vitor Vidal e Matheus Santos compartilham as matérias que abordam o seu repentino sucesso. Em uma delas, do UOL,  contam como criaram a página a partir do que descrevem como uma bizarrice: alguém girando em cima de um cavalo em meio a um monte de bois, transformando-se em ouro ao final. E como a zoeira não tem limites, os estudantes de computação da PUC Minas decidiram zoar a abertura da novela, colocando o rei do gado a girar em outros ritmos. A ideia deu certo, e o que era para ser apenas uma diversão com os amigos tornou-se o mais novo fenômeno da internet brasileira.

A novela O Rei do Gado é reconhecida por ser uma das maiores produções da televisão brasileira, abordando questões sociais como a reforma agrária e a condição dos trabalhadores sem terra. Na época em que foi exibida pela primeira vez, entre 1996 e 1997, os criadores da página ainda nem haviam nascido. Mas ao remixar de forma hilária a abertura oficial da novela já podem ser considerados como co-responsáveis por trazê-la novamente às hashtags da internet.

Livro para download: O que é o virtual?

Baixe grátis o livro O que é o virtual?, de Pierre Lévy

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Pierre Lévy, filósofo e sociólogo nascido na Tunísia, mas radicado na França, é um dos pesquisadores mais cultuados no que se refere às temáticas sobre inteligência coletiva e cibercultura. Seus livros popularizaram-se no Brasil no final dos anos de 1990 ao abordarem esses temas, no paradigma emergente de estudos sobre a internet e suas repercussões sociais e culturais.

No livro “O que é o virtual?”, de 1996, o autor se debruça sobre os conceitos de virtualização e atualização. Em sua obra, a distinção entre real e virtual é fundamental, pois, no senso comum, segundo o autor, essas categorias operam no que ele chama de “oposição fácil e enganosa”: o virtual como antônimo do real. Na perspectiva de Pierre Lévy, o virtual não é o oposto do real, mas do atual. Embora tenha uma relação com o imaginário (oposto do real), o virtual não deve ser confundido com ele. Para o autor, o movimento de virtualização opera como inverso ao da atualização.

A obra reúne elementos filosóficos, antropológicos e sociopolíticos, partindo do conceito de virtualização originário do conceito latino da palavra virtus — aquilo que existem em potência e não em ato –, a relação entre o processo de virtualização e hominização e a compreensão deste fenômeno contemporâneo para atuar politicamente nele. No decorrer do livro, Lévy, ao estabelecer que o virtual não está para o real, como ilusório ou irreal, mas para o atual, ratifica o virtual como semente, como potência de uma configuração dinâmica de forças e finalidades que engendram a passagem de uma entidade qualquer do atual para o virtual. Assim, a virtualização é um movimento dialético com o atual, que cria ou transforma qualidades. Por um lado o real é a expressão das potências possíveis de uma existência, por outro, o virtual é a elevação à potência do atual de uma existência. Desse modo, para Lévy, esse movimento torna o virtual um dos principais vetores da realidade.

Livro para download: Dos meios às mediações: Comunicação, cultura e hegemonia

Baixe grátis o livro Dos meios às mediações: Comunicação, cultura e hegemonia, de Jesús Martín-Barbero

 

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O espanhol radicado na Colômbia Jesús Martín-Barbero publicou essa obra originalmente em 1986, embora só na virada dos anos 2000 o livro tenha ganhado repercussão no Brasil, após a primeira edição brasileira em 1997, pela editora da UFRJ. Semiólogo e pesquisador da comunicação e da cultura, Martín-Barbero, nesse livro, coloca em xeque todo o debate então predominante sobre mídia e comunicação, em especial na América Latina. No debate vigente, ancorado na perspectiva da Escola de Frankfurt e seus representantes, como Adorno e Horkheimer, a mídia era vista como um instrumento de manipulação no interior da sociedade administrada. A ideia central do livro para confrontar o pensamento predominante de que a mídia, as produções culturais e as comunicações, no âmbito da indústria cultural, estariam sempre à serviço da alienação é a de que nem toda absorção do hegemônico pelo subalterno é sinal de submissão e nem toda recusa é sinal de resistência.

Com argumentos históricos e teóricos consistentes, o autor analisa a questão da comunicação a partir da América Latina em diferentes períodos históricos no século XX: um primeiro, dos anos 30 aos anos 50, e um segundo a partir da década de 1960, com o estímulo ao consumo e com os meios de comunicação desviados de sua função política para entenderem a interesses econômicos.

A passagem dos meios às mediações, na análise do autor, corresponde à passagem de uma análise na qual os dispositivos são simples meios para se realizar alienação num público passivo para um modelo de análise em que a hegemonia transforma de dentro o sentido do trabalho e da vida da comunidade. Não é possível, por isso, fazer uma apreciação das mensagens da mídia sem uma análise real do que acontece na recepção dessas mensagens, que nunca é simplesmente passiva e consumidora. Isso não quer dizer que a mensagem midiática não deva ser questionada quanto aos seus interesses originais, mas considerá-la apenas, sem levar em consideração às mediações (e as formas de recepção dessas mensagens) seria uma redução simplista do estudo da comunicação — o que comumente ocorre nas afirmações de que as mídias apenas manipulam e alienam. Assim, os pressupostos anunciados no livro abrem passagem para o fortalecimento dos chamados “estudos de recepção”, nos quais os contextos dos receptores e suas bagagens culturais ganham relevância para reelaboração das mensagens midiáticas: não que as mídias não manipulem, mas existe um espaço, talvez amplo, de mediações dessas mensagens.

 

Conheça o Grupo Triii

Apresentações reúnem músicas e brincadeiras, com um repertório autoral e da cultura popular brasileira, com a proposta de interagir com crianças e familiares através da música

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Grupo Triii em apresentação no programa Quintal da Cultura, da TV Cultura, em 2012

Cores. Sons. E uma certa nostalgia. É isso o que o internauta encontra quando acessa o canal do Grupo Triii no YouTube. A musicalidade remete à sonoridade da música popular brasileira, característica do grupo. As letras e as performances levam para um magnífico e já quase esquecido universo infantil. Essas são as nuances de boas-vindas do Grupo Triii para os visitantes da página, que nos deixa bastante à vontade para vasculhar os seus conteúdos e vídeos.

Formado em 2008 por amigos que tinham em comum a identificação com a música e a fascinação com o universo infantil, o grupo faz shows que “reúnem músicas e brincadeiras, com um repertório autoral e da cultura popular brasileira, com a proposta de interagir com crianças e familiares através da música, de forma divertida e sempre muito criativa”, de acordo com sua página no Facebook. Inspiração parece não faltar: o repertório vai desde letras que falam de objetos, como utensílios de cozinha, passando por letras do alfabeto, alimentos, sons e até mesmo baratas alienígenas.

Em suas “mirabolâncias” — quadro que abre boa parte dos vídeos disponíveis no canal — o grupo aborda, de forma musical e lúdica, aspectos variados que aguçam a curiosidade infantil e, por consequência, a aprendizagem. Como nesse vídeo, em que exploram o universo das semelhanças, tomando como exemplo o ‘parentesco’ entre o tomate e o caqui.

 

O canal no YouTube existe desde 2012 e conta atualmente com mais de 9 mil inscritos. Os vídeos do Grupo Triii já foram visualizadas mais de 4 milhões e 200 mil vezes. No Facebook, são outros 65 mil seguidores. Em ambos os canais, adultos, mas também muitas crianças (a julgar pelos perfis nos comentários das postagens) podem ser identificados como fãs do grupo. Além do canal de vídeos no YouTube, no Facebook o Grupo Triii disponibiliza a Rádio Triii, um app com músicas gravadas pelo grupo, composições próprias e adaptadas, voltadas ao público infantil (mas também adulto), como a clássica A árvore da montanha. 

A qualidade musical, com sonoridade marcante da música popular brasileira, se deve em parte aos harmoniosos vocais de Marina Pittier,  que está próxima de atingir sua meta para o financiamento coletivo da gravação de seu primeiro CD. Mas no geral, as músicas transportam o ouvinte para os ritmos típicos do interior do Brasil, o que tem tudo a ver com a nostalgia pelo universo infantil que os vídeos também suscitam.

O grupo faz apresentações em teatros e escolas, além de eventos particulares, sempre dentro da proposta de promover a interação através da música, de forma criativa e divertida. Na página do Facebook você encontra as informações de contato do grupo, além do endereço do site, que está em construção. No entanto, para quem não está em São Paulo (onde o grupo normalmente atua), uma boa opção é o canal do YouTube. Em termos de mídia na educação, os vídeos que o Grupo Triii disponibiliza no canal podem ser utilizados por pais e educadores como facilitadores da aprendizagem das crianças, ou mesmo como entretenimento — que promove uma aprendizagem desinteressada, mas muitas vezes significativa.

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Ed Encarnação, Marina Pittier e Fê Stok na formação atual do Grupo Triii

Os conteúdos veiculados pelo Grupo Triii em suas redes sociais encarnam a simplicidade e ingenuidade do universo infantil, ao mesmo tempo em que resgata o lúdico e o singular brasileiro, numa mistura de arte e mídias, cultura e brincadeiras. No âmbito da cultura digital, cada vez mais pasteurizada e homogeneizada a que os entusiastas costumam se referir como glocal (global-e-local), a originalidade e o resgate cultural e artístico promovido pelo Grupo Triii é um achado, desses que vale a pena ser divulgado e preservado. E consumido sem moderação.

 

Atualização em 05/11/2016: em 04/11 a meta de financiamento coletivo do CD 
inaugural de Marina Pittier foi alcançada.

 

 

As Meninas Digitais contam com a sua ajuda

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O Projeto Meninas Digitais – Regional Sul, da Universidade Federal de Santa Catarina, é uma iniciativa vinculada ao Programa Meninas Digitais, da Sociedade Brasileira da Computação (SBC). O projeto tem como propósito divulgar as áreas tecnológicas e de ciências exatas para despertar o interesse de estudantes do Ensino Médio a conhecerem melhor a área e, dessa forma, desenvolver habilidades para a busca do conhecimento. As ações do projeto, são diversificadas: são promovidos minicursos e oficinas, realização de dinâmicas, palestras com estudantes e profissionais que já atuam na área compartilhando suas experiências, visitas técnicas a universidades e empresas, seminários sobre a influência da tecnologia na educação e entre outras atividades.

As acadêmicas que fazem parte do Projeto Meninas Digitais – Regional Sul, da Universidade Federal de Santa Catarina, tiveram três propostas de artigo aceitas para o evento científico XXIV Colóquio da AFIRSE Portugal a ser realizado no dia 2, 3 e 4 de fevereiro de 2017, na Universidade de Lisboa-Portugal: O uso da tecnologia como ferramenta de apoio aos métodos pedagógicos tradicionais, A utilização da robótica educativa nas escolas públicas e Ensino de computação sem computadores. O evento, de visibilidade internacional, vai proporcionar, além da apresentação e debate sobre seus artigos, a exposição do trabalho aplicado durante as oficinas ministradas.

No entanto, para representar o país no evento e apresentarem seus trabalhos, as integrantes do projeto precisam de ajuda. Elas estão se organizando para arrecadar recursos para cobrir parte dos custos de viagem, como passagens aéreas, acomodações e alimentação, haja vista que a universidade não dispõe de recursos para auxiliá-las. As estudantes criaram a página Ajudem as Meninas Digitais UFSC, sistema de “vaquinha” on-line, a fim de levantar os recursos necessários para a participação no evento.

SAIBA MAIS

Acesse e ajude na vaquinha on-line: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/ajudem-as-meninas-digitais.

Acesse a página do Facebook e conheça mais sobre o projeto Meninas Digitais – USFC.

Conheça o canal das Meninas Digitais no YouTube.

Pelo empoderamento feminino. Por mulheres na ciência. Por mulheres na computação. Por tecnologias para transformar a educação.